O laço que Otávio colocou na minha caixa de trufas. |
Bom, hoje pretendo concluir minha versão atual dessa história, que tenho na minha memória. Tive feedbacks excelentes sobre as duas últimas postagens e isso me deu um fôlego a mais pra elaborar a parte final. Ainda assim, algumas pessoas parece que se sentem incomodadas com quem conta suas histórias e valoriza a própria trajetória. Nunca sei o que dizer nessas horas. Acredito que diga mais sobre elas, do que sobre mim.
Voltando pra rodoviária, daquele dia fatídico: Eu teria que fazer uma escolha. E como a maturidade era pouca ou quase zero, a escolha acabou sendo tomada influenciada pelos afetos, principalmente do medo, e até mesmo da vingança.
No exato dia em que começo a conversar com Otávio, tive um evento meio que traumático, que considero um divisor de águas. Meu primeiro namorado, agiu de uma forma fria e seca comigo. Eu estava num momento vulnerável naquela época: havia sido desligado de uma empresa em que eu esperava ficar por muitos anos, meus estudos estavam paralisados desde 2005 e meu relacionamento com ele entrava numa vibe de beco sem saida. Estava sozinho em casa e resolvi fazer uma surpresa a ele: fui até a casa dele, que era em outra cidade, pra oferecer minha companhia e acompanhá-lo até a faculdade. Ele morava a dez minutos da Uerj C, a pé. Pra chegar na casa dele, eu precisava pegar duas conduções, levando mais ou menos 1h e:20min. Resolvi arriscar, pra termos um momento juntos. Ele andava muito distante emocionalmente, depois que começou essa nova graduação. Pois bem, ao me ver na porta da vila, fez cara de quem não gostou. Disse que eu estava querendo pressioná-lo, que não dava espaço. E que na faculdade, ninguém sabia que ele era gay ( cof, cof, cof ). Resumindo: Não me queria ali. Fui embora muito mal e ele sequer pediu desculpas. Foi dormir se achando na razão. Não o procurei mais. Tínhamos, até ali, dois anos de relacionamento, entre trancos e barrancos.
Ele acabou sabendo do Otávio por algum amigo em comum ou pelo meu blog. Não me lembro. E fez um grande drama. Surpreendentemente, o ego ferido do leonino gritou que eu era necessário. Mas que coisa, não? Ignorei todas as mensagens e chamadas. Minha sogra, na época, era contra nossa relação, por achar que fazia mal a nós dois. Ainda assim, num ato de desespero, ela me liga, pedindo que eu atendesse o filho dela, que estava " muito mal ". Começo a ouvir chamarem no meu portão. Fui olhar e era ele. Que estranho. Não era ele que era contra visitas surpresas e que valorizava o " espaço " de cada um? Resolvi ir até lá e admirar a sua situação patética. O rancor que eu tinha dele, no momento, ativou meu lado sádico. Apenas observava ele, choramingando, de forma ridícula, como um filho mimado que não ligava pra um brinquedo, até que uma outra criança tenta brincar com ele. Eis que ele se ajoelha na calçada, pedindo perdão e que a gente reatasse. Senti um estranho prazer. Não lembro o que falei. Não maltratei, não prometi nada. Deixei ele no limbo, da incerteza, como ele costumava me deixar. Que ele provasse do próprio veneno. Isso foi antes do Otávio vir ao Rio. Contei a ele, como uma prova de confiança. Ele aprovou minha atitude, até ali. E tivemos, dias depois, aqueles 5 dias perfeitos.
Lembram da pílula da Matrix? Naquele momento, eu só via duas possibilidades: viver aquele sonho impossível e sucumbir num relacionamento à distância, com uma pessoa quase perfeita, lidando com minha insegurança me sufocando, a cada dia... ou voltar à vida real, no meu relacionamento problemático, com aquele que era pra ser meu melhor amigo e me desapontou tanto, até ali.
Levanto do chão da rodoviária, com a bermuda toda empoeirada. Seco minhas lágrimas. Otávio tinha me ligado, dizendo que tudo ficaria bem. Sim, pra ele, talvez ficasse bem mesmo. E minutos depois, meu telefone toca. Eu, ainda entorpecido pela dor. Parecia que tinha morrido alguém, até. Era, talvez, meu primeiro grande luto. Meu ex me liga, parecendo sentir como eu estava. Se oferece pra conversar. E o que pra muitos, parecia improvável, acontece: nosso relacionamento ganhou uma sobrevida.
Como contar pro Otávio? Eu precisava ter algum tipo de estabilidade emocional, o que nunca teria com ele. Principalmente, com a distância. Contei dias depois e tentei explicar o inexplicável. Ele emudeceu e desligou o telefone. Ter desapontado ele, me fez sofrer durante longos anos. Nunca aceitei como tudo aconteceu. Ele poderia achar que eu quis me encontrar com ele apenas pra sexo, o que nunca foi verdade. Tentei contato, esperando que ele esfriasse os ânimos e deixasse eu me explicar melhor. Não tive chances ou espaço pra isso. Não havia nada que eu pudesse fazer, depois da destruição da minha escolha.
Mas eu lidava com a situação como um " matar ou morrer ", naquela altura do campeonato. Se eu continuasse com o Otávio e ele enjoasse de mim e quando me desse conta, meu ex já tinha seguido em frente. Eu ficaria sem nenhum dos dois. Sim, eu não tinha estratégias alternativas a essas duas escolhas. Optei pelo suicídio emocional e moral, pra não ter que lidar com uma rejeição, que de certo modo, destruiria as lembranças que tinha com Otávio. Eu optando por terminar, era como se eu escrevesse a página final do livro, ainda que de forma trágica. E haja terapia !
Gosto de usar a metáfora de uma cena do filme Gladiador, onde ele vai pra uma luta na arena, tendo sido atingido por uma adaga, nos bastidores. A multidão que assistia, esperava um lutador implacável e viu alguém enfraquecido, que estava sangrando, por debaixo da armadura. Era assim que me senti nos anos seguintes na minha relação com o JJ. Chegamos a completar 5 anos de relacionamento, antes do derradeiro fim. Acabei usando a história com o Otávio pra deixá-lo em constante alerta e dar uma lição nele. Eu estava, enfim, no controle daquela situação. Mas o custo era incalculável. Vivemos alguns momentos bons, até. Mas a aura do Otávio pairava entre nós, como um ser fantasmagórico. Eu nunca falava sobre ele com JJ, até que um dia, pra minha surpresa, ele resolve me perguntar detalhes... como ele era no dia a dia e até no sexo ( oi ? ). Poderia ser um momento pra eu me vangloriar, mas aquilo me doía tanto, que desconversei, aumentando ainda mais sua curiosidade. Estava claro que não seria um tema a ser superado tão cedo.
Passei a mandar e-mails pro Otávio, sempre nos dias 09/09 ( aniversário dele ) e nas viradas de ano. Sempre pedindo perdão por eu ter sido desonesto e querendo saber se estava bem. Ele nunca respondia. Repeti esse ritual, por longos anos, lembrando o filme " Um sonho de liberdade ", quando o personagem de Tim Robbins pedia que a biblioteca da penitenciária fosse melhorada. Qual seria a chance de ele ser atendido? A chance era mínima.
Meu segundo relacionamento longo começa em 2014. Era um virginiano, assim como Otávio. Só que 9 anos mais novo que eu ( eu com 28, ele com 19 ). Eu seria o primeiro dele em tudo e isso pra mim era uma grande questão, naquela época. Ele, ao contrário do JJ, queria saber tudo sobre mim. Com o tempo, soube dos blogs e leu alguns, de ponta a cabeça. Não sei como, mas ele achou o Otávio no Facebook e começou a seguir. Até que, num final de semana de descanso, estávamos em um hotel. Reparei que o Gui estava estranho. Perguntei o que estava acontecendo. Ele me perguntou se o Otávio estava vindo " me buscar ".
- Oi ??
Nisso ele conta que estava seguindo o Otávio há tempos, sem me contar. Coincidiu de meu ex publicar, em fotos públicas, no FB, que estava a caminho do Rio, se não me engano, em 2015 ( 4 anos depois ). E na legenda coloca:
- Voltei !
Fiquei zonzo com tanta informação. Tive tela azul. Nisso, o Gui confessa que analisou todo o perfil do Otávio, até fisicamente falando e me perguntou quando eu deixaria de tratá-lo como uma sombra daquele que me proporcionou dias tão felizes.
- Garoto, você não sabe o que está falando !
E saiu do hotel, batendo a porta.
Não fui atrás.
Será que ele estava certo?
Fiquei ainda um pouco no hotel, refletindo.
Vou atrás do perfil do Otávio e vejo que ele realmente estava no Rio. E pensando bem, como eu já estava sendo tratado como culpado, que pelo menos houvesse um motivo!
Fui até Ipanema e vagueei sobre a orla, na esperança de esbarrar com Otávio. O que eu falaria? Não me perguntem. Talvez até ele fingisse não me conhecer. Não sei. Fiquei horas ali, em vão. Poderia ter ido nos hotéis, arriscar mais. Mas não queria que parecesse mais patético do que já estava. Não consegui vê-lo. Com o tempo, pude observar as semelhanças. Era uma espécie de doppelganger e lembrava muito The Vampire Diaries. Gui estava certo e me conhecia mais do que eu mesmo.
Meu relacionamento com Gui terminou em 2016. Lembro que pouco tempo depois, eu ainda tentava mensagens pro Otávio, naquele ritual de busca pela redenção. E eis que em janeiro de 2017, ele começa a digitar no Messenger. Meu coração gelou. Imaginei que ele poderia me xingar, pelas inúmeras tentativas. Mas ele me ouviu ( leu as msgs ) e conversamos um pouco. Expliquei tudo e tentei me justificar. Ele me deu o perdão que eu tanto precisava. Renasci, naquele momento. Aquela marca sombria havia sido curada. Agradeci muito a ele pelo que passamos e por ter jogado luz em mim, mesmo que eu não tenha retriubuído à altura.
Nunca mais nos falamos. Sigo ele no Instagram, atualmente. Hoje, é piloto de avião. Está sempre viajando, conhecendo países diferentes. É uma pessoa totalmente expansiva, livre e inspiradora. Vê-lo bem, me faz bem. Se fosse um Efeito Borboleta, talvez fizesse a mesma escolha. A certas pessoas, que amamos, às vezes o melhor que temos a fazer, é não atrapalhar. Deixar ir , e agradecer sempre.
Meu amigo, que presenciou uma parte dessa história, talvez até hoje não entendesse o motivo de eu ter tentado aproveitar cada segundo com o Otávio, naquela semana. Eu, mesmo novo, sabia que o tempo era curto e que eu poderia me arrepender muito, por desperdiçar. Espero que hoje, finalmente entenda.
OBS: O que teve de gente pedindo pra ver a foto dele na praia com filtro solar no rosto, não tá no gibi ! Rs.
Bom, não sei se é o final que esperavam, mas é um final :)
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