quinta-feira, 24 de outubro de 2024 0 comentários

To be free is all we want to be - Parte Final - Director's cut

 

O laço que Otávio colocou na minha caixa de trufas.


Bom, hoje pretendo concluir minha versão atual dessa história, que tenho na minha memória. Tive feedbacks excelentes sobre as duas últimas postagens e isso me deu um fôlego a mais pra elaborar a parte final. Ainda assim, algumas pessoas parece que se sentem incomodadas com quem conta suas histórias e valoriza a própria trajetória. Nunca sei o que dizer nessas horas. Acredito que diga mais sobre elas, do que sobre mim.

Voltando pra rodoviária, daquele dia fatídico: Eu teria que fazer uma escolha. E como a maturidade era pouca ou quase zero, a escolha acabou sendo tomada influenciada pelos afetos, principalmente do medo, e até mesmo da vingança. 

No exato dia em que começo a conversar com Otávio, tive um evento meio que traumático, que considero um divisor de águas. Meu primeiro namorado, agiu de uma forma fria e seca comigo. Eu estava num momento vulnerável naquela época: havia sido desligado de uma empresa em que eu esperava ficar por muitos anos, meus estudos estavam paralisados desde 2005 e meu relacionamento com ele entrava numa vibe de beco sem saida. Estava sozinho em casa e resolvi fazer uma surpresa a ele: fui até a casa dele, que era em outra cidade, pra oferecer minha companhia e acompanhá-lo até a faculdade. Ele morava a dez minutos da Uerj C, a pé. Pra chegar na casa dele, eu precisava pegar duas conduções, levando mais ou menos 1h e:20min. Resolvi arriscar, pra termos um momento juntos. Ele andava muito distante emocionalmente, depois que começou essa nova graduação. Pois bem, ao me ver na porta da vila, fez cara de quem não gostou. Disse que eu estava querendo pressioná-lo, que não dava espaço. E que na faculdade, ninguém sabia que ele era gay ( cof, cof, cof ). Resumindo: Não me queria ali. Fui embora muito mal e ele sequer pediu desculpas. Foi dormir se achando na razão. Não o procurei mais. Tínhamos, até ali, dois anos de relacionamento, entre trancos e barrancos.

Ele acabou sabendo do Otávio por algum amigo em comum ou pelo meu blog. Não me lembro. E fez um grande drama. Surpreendentemente, o ego ferido do leonino gritou que eu era necessário. Mas que coisa, não? Ignorei todas as mensagens e chamadas. Minha sogra, na época, era contra nossa relação, por achar que fazia mal a nós dois. Ainda assim, num ato de desespero, ela me liga, pedindo que eu atendesse o filho dela, que estava " muito mal ". Começo a ouvir chamarem no meu portão. Fui olhar e era ele. Que estranho. Não era ele que era contra visitas surpresas e que valorizava o " espaço " de cada um? Resolvi ir até lá e admirar a sua situação patética. O rancor que eu tinha dele, no momento, ativou meu lado sádico. Apenas observava ele, choramingando, de forma ridícula, como um filho mimado que não ligava pra um brinquedo, até que uma outra criança tenta brincar com ele. Eis que ele se ajoelha na calçada, pedindo perdão e que a gente reatasse. Senti um estranho prazer. Não lembro o que falei. Não maltratei, não prometi nada. Deixei ele no limbo, da incerteza, como ele costumava me deixar. Que ele provasse do próprio veneno. Isso foi antes do Otávio vir ao Rio. Contei a ele, como uma prova de confiança. Ele aprovou minha atitude, até ali. E tivemos, dias depois, aqueles 5 dias perfeitos.

Lembram da pílula da Matrix? Naquele momento, eu só via duas possibilidades: viver aquele sonho impossível e sucumbir num relacionamento à distância, com uma pessoa quase perfeita, lidando com minha insegurança me sufocando, a cada dia... ou voltar à vida real, no meu relacionamento problemático, com aquele que era pra ser meu melhor amigo e me desapontou tanto, até ali.

Levanto do chão da rodoviária, com a bermuda toda empoeirada. Seco minhas lágrimas. Otávio tinha me ligado, dizendo que tudo ficaria bem. Sim, pra ele, talvez ficasse bem mesmo. E minutos depois, meu telefone toca. Eu, ainda entorpecido pela dor. Parecia que tinha morrido alguém, até. Era, talvez, meu primeiro grande luto. Meu ex me liga, parecendo sentir como eu estava. Se oferece pra conversar. E o que pra muitos, parecia improvável, acontece: nosso relacionamento ganhou uma sobrevida.

Como contar pro Otávio? Eu precisava ter algum tipo de estabilidade emocional, o que nunca teria com ele. Principalmente, com a distância. Contei dias depois e tentei explicar o inexplicável. Ele emudeceu e  desligou o telefone. Ter desapontado ele, me fez sofrer durante longos anos. Nunca aceitei como tudo aconteceu. Ele poderia achar que eu quis me encontrar com ele apenas pra sexo, o que nunca foi verdade. Tentei contato, esperando que ele esfriasse os ânimos e deixasse eu me explicar melhor. Não tive chances ou espaço pra isso. Não havia nada que eu pudesse fazer, depois da destruição da minha escolha.

Mas eu lidava com a situação como um " matar ou morrer ", naquela altura do campeonato. Se eu continuasse com o Otávio e ele enjoasse de mim e quando me desse conta, meu ex já tinha seguido em frente. Eu ficaria sem nenhum dos dois. Sim, eu não tinha estratégias alternativas a essas duas escolhas. Optei pelo suicídio emocional e moral, pra não ter que lidar com uma rejeição, que de certo modo, destruiria as lembranças que tinha com Otávio. Eu optando por terminar, era como se eu escrevesse a página final do livro, ainda que de forma trágica. E haja terapia !

Gosto de usar a metáfora de uma cena do filme Gladiador, onde ele vai pra uma luta na arena, tendo sido atingido por uma adaga, nos bastidores. A multidão que assistia, esperava um lutador implacável e viu alguém enfraquecido, que estava sangrando, por debaixo da armadura. Era assim que me senti nos anos seguintes na minha relação com o JJ. Chegamos a completar 5 anos de relacionamento, antes do derradeiro fim. Acabei usando a história com o Otávio pra deixá-lo em constante alerta e dar uma lição nele. Eu estava, enfim, no controle daquela situação. Mas o custo era incalculável. Vivemos alguns momentos bons, até. Mas a aura do Otávio pairava entre nós, como um ser fantasmagórico. Eu nunca falava sobre ele com JJ, até que um dia, pra minha surpresa, ele resolve me perguntar detalhes... como ele era no dia a dia e até no sexo ( oi ? ). Poderia ser um momento pra eu me vangloriar, mas aquilo me doía tanto, que desconversei, aumentando ainda mais sua curiosidade. Estava claro que não seria um tema a ser superado tão cedo.

Passei a mandar e-mails pro Otávio, sempre nos dias 09/09 ( aniversário dele ) e nas viradas de ano. Sempre pedindo perdão por eu ter sido desonesto e querendo saber se estava bem. Ele nunca respondia. Repeti esse ritual, por longos anos, lembrando o filme " Um sonho de liberdade ", quando o personagem de Tim Robbins pedia que a biblioteca da penitenciária fosse melhorada. Qual seria a chance de ele ser atendido? A chance era mínima.

Meu segundo relacionamento longo começa em 2014. Era um virginiano, assim como Otávio. Só que 9 anos mais novo que eu ( eu com 28, ele com 19 ). Eu seria o primeiro dele em tudo e isso pra mim era uma grande questão, naquela época. Ele, ao contrário do JJ, queria saber tudo sobre mim. Com o tempo, soube dos blogs e leu alguns, de ponta a cabeça. Não sei como, mas ele achou o Otávio no Facebook e começou a seguir. Até que, num final de semana de descanso, estávamos em um hotel. Reparei que o Gui estava estranho. Perguntei o que estava acontecendo. Ele me perguntou se o Otávio estava vindo " me buscar ". 
- Oi ??
Nisso ele conta que estava seguindo o Otávio há tempos, sem me contar. Coincidiu de meu ex publicar, em fotos públicas, no FB, que estava a caminho do Rio, se não me engano, em 2015 ( 4 anos depois ). E na legenda coloca: 
 - Voltei !
Fiquei zonzo com tanta informação. Tive tela azul. Nisso, o Gui confessa que analisou todo o perfil do Otávio, até fisicamente falando e me perguntou quando eu deixaria de tratá-lo como uma sombra daquele que me proporcionou dias tão felizes.
- Garoto, você não sabe o que está falando !
E saiu do hotel, batendo a porta. 
Não fui atrás.
Será que ele estava certo?
Fiquei ainda um pouco no hotel, refletindo.
Vou atrás do perfil do Otávio e vejo que ele realmente estava no Rio. E pensando bem, como eu já estava sendo tratado como culpado, que pelo menos houvesse um motivo!
Fui até Ipanema e vagueei sobre a orla, na esperança de esbarrar com Otávio. O que eu falaria? Não me perguntem. Talvez até ele fingisse não me conhecer. Não sei. Fiquei horas ali, em vão. Poderia ter ido nos hotéis, arriscar mais. Mas não queria que parecesse mais patético do que já estava. Não consegui vê-lo. Com o tempo, pude observar as semelhanças. Era uma espécie de doppelganger e lembrava muito The Vampire Diaries. Gui estava certo e me conhecia mais do que eu mesmo.

Meu relacionamento com Gui terminou em 2016. Lembro que pouco tempo depois, eu ainda tentava mensagens pro Otávio, naquele ritual de busca pela redenção. E eis que em janeiro de 2017, ele começa a digitar no Messenger. Meu coração gelou. Imaginei que ele poderia me xingar, pelas inúmeras tentativas. Mas ele me ouviu ( leu as msgs ) e conversamos um pouco. Expliquei tudo e tentei me justificar. Ele me deu o perdão que eu tanto precisava. Renasci, naquele momento. Aquela marca sombria havia sido curada. Agradeci muito a ele pelo que passamos e por ter jogado luz em mim, mesmo que eu não tenha retriubuído à altura.

Nunca mais nos falamos. Sigo ele no Instagram, atualmente. Hoje, é piloto de avião. Está sempre viajando, conhecendo países diferentes. É uma pessoa totalmente expansiva, livre e inspiradora. Vê-lo bem, me faz bem. Se fosse um Efeito Borboleta, talvez fizesse a mesma escolha. A certas pessoas, que amamos, às vezes o melhor que temos a fazer, é não atrapalhar. Deixar ir , e agradecer sempre.

Meu amigo, que presenciou uma parte dessa história, talvez até hoje não entendesse o motivo de eu ter tentado aproveitar cada segundo com o Otávio, naquela semana. Eu, mesmo novo, sabia que o tempo era curto e que eu poderia me arrepender muito, por desperdiçar. Espero que hoje, finalmente entenda.

OBS: O que teve de gente pedindo pra ver a foto dele na praia com filtro solar no rosto, não tá no gibi ! Rs.

Bom, não sei se é o final que esperavam, mas é um final :)








quarta-feira, 16 de outubro de 2024 6 comentários

To be free is all we want to be - Parte 2 de 3

 


Maio de 2011. Amy Winehouse ainda estava viva. Primeiro ano de mandato de Dilma Rousseff.

Estávamos nos sentindo cada vez mais conectados e próximos. Senti que era o momento de arriscar. Se um de nós voltasse a ter um emprego, seria cada vez mais difícil. Calculei quanto custaria pra que ele viesse ao Rio. Resolvi perguntar a ele o que achava da idéia. Decidimos usar nossa pouca reserva financeira, pra passar uma semana juntos. Ainda assim, seria o suficiente, no máximo pra passagem e algumas saídas de baixo custo, por aqui rs. Ainda assim, pedi ajuda a um grande amigo, pra que o Otávio pudesse dormir lá, pois eu ainda morava com meus pais e havia todo aquele cerco homofóbico, ainda que velado e indireto.

Hoje, posso sentir como era ridículo ter que inventar histórias para meus pais, pra receber um " amigo " em casa. Alegamos que ele veio ao Rio pra um evento de anime, em Niterói. Realmente, iríamos ao evento, mas não era o principal motivo rs.

13 de maio de 2011. Como diria Fernando Pessoa, seria um " dia triunfal na minha vida ". Chegou o momento de recebê-lo na rodoviária. Sim, não havia a mínima possibilidade de ele vir de avião. São 17 horas de viagem, dentro de um ônibus, pra vir me encontrar. 

[ É aí que eu lembro: " Pra quem achava que eu tava na pior... pohan! " ]

O ônibus atrasou um pouquinho, além do previsto. Tentei ligar pra ele pra perguntar e o telefone dava fora de área, na região serrana aqui do Rio, a caminho da cidade. Eis que ele desce do ônibus e vem na minha direção. Senti minha alma saindo do corpo, um pouquinho. Não sabia o que falar. E ele, chega quebrando o gelo : " Tava me ligando, bocó? ".

Passado aquele frisson dos minutos iniciais, parecia que já nos conhecíamos, de tanto que conversamos durante um mês. E fomos pra casa dos meus pais, pra deixar a mala dele. Foi aí que eu reparei em algo, que na época, eu achei que fosse algo mágico ou resultado do carisma do Otávio : Meus pais trataram ele como um principe. Perguntaram sobre a vida dele, se interessaram pelas coisas que ele contava. Fiquei pasmo! Bom, ele era branco, sulista, não afeminado. Meu primeiro namorado não era branco e tinha um tom menos heteronormativo. Sem contar que meus pais cismavam que o JJ tinha me " convertido ". Mas que c* de mel, né? Voltando ao assunto...

Um outro parêntese relevante, é que na época, meu metabolismo estava a todo vapor: eu comia muito e tinha no máximo uma pochete de barriga. Eu devia vestir 44, pra terem uma idéia. Minha deficiência, neuro degenerativa, tava em seu estado inicial e praticamente não me impedia de nada. Então, sendo branco, atv e aparentemente hetero normativo, era como se eu pulasse várias etapas na " prateleira". Ainda assim, perto dele, eu me sentia um impostor.

Tivemos nossa primeira vez, já naquele dia. Saímos de um motel e fomos jantar num restaurante. Em seguida, encontraríamos com meu amigo, que iria oferecer hospedagem pro Otávio. Esse meu amigo quis mostrar a Lapa e a noite carioca pro Otávio, que estava pela primeira vez no Rio. Bom, primeiramente sempre me senti velho pra esses eventos, principalmente por ser fraco pra álcool e não gostar de ficar na rua de madrugada. Otávio achou legal o tour e nisso, meu amigo encontra uns conhecidos gays numa praça, nos Arcos da Lapa. Fiquei num canto, conversando com Otávio, perguntando se ele tava se sentindo cansado. Havia todo o desgaste da viagem, etc. Nisso, eu reparo que os conhecidos do meu amigo estavam " secando " o Otávio, de longe. Sem contar as pessoas que passavam. Se eu pudesse, teria materializado uma bolha, estilo Sonic, com insul film. Por sorte, o Otávio disse que estava com sono e foi a deixa pra sairmos daquela armadilha, que ativou todos os meus gatilhos de insegurança rs. Já era por volta de 2h da madrugada e fomos esperar um ônibus pra Zona Norte do Rio. Lembro que tinha uns caras bêbados, puxando assunto, no ponto de ônibus. Não se sabia se eram gays ou não. E quando entramos no ônibus, Otávio encostou no meu ombro e dormiu. Eu passei a olhar em volta e estava pronto pra reagir a qualquer tentativa de ataque, que pudesse ocorrer. Que bom que não aconteceu nada.

Ah, mas que época divisora de águas! Existia violência urbana? Claro que sim. Mas não ainda não tinha acontecido a ruptura social, que ocorreria anos depois, pós golpe na Dilma. Digo isso, porque a casa desse meu amigo era em uma comunidade, que hoje em dia, seria impossível de entrarmos. Até mesmo ele precisou se mudar de lá. E deu tudo certo, dormimos lá, nós 3, em colchões no chão do quarto. Dormi o sono dos justos rs. Quando acordamos, meu amigo já tinha saído pra trabalhar. E lembro de ele dizer pro Otávio " se sentir em casa ". Bom, rolou né? Meu amigo riu e falou que tiramos a virgindade do quarto dele. Que nem ele tinha transado no próprio quarto kkk.Perguntei o que achou do Otávio, e meu amigo comparou o humor dele com o Rei Julian, de Madagascar.

Saímos da casa do meu amigo e voltamos pra casa dos meus pais, até porque ele precisava pegar roupas na mala, que tinha ficado lá. Meus pais chegaram a dar uma saida rápida e o Otávio, hiper responsável, me disse pra não arriscar nada, pra que não corrêssemos o risco de sermos pegos em flagrante e passar por perrengue desnecessário. Vontade não faltou. Colocamos um filme pra assistir. Na época, baixava filmes em Torrent, no desktop. O filme Bruna Surfistinha era recente e acabamos assistindo. Lembro que acendemos umas velas aromáticas ( ok, não transar, mas meus pais verem a gente assistir filme com velas aromáticas, tava liberado? Uhum... ). Pra nossa surpresa, minha mãe perguntou se ele ia dormir lá. Que bom que teve essa abertura! Infelizmente, optamos por ele dormir no sofá da sala. Queria muito que ele dormisse no quarto comigo, mas não deu. Fiquei na porta do quarto, como um psicopata, até que ele dormisse. Tenho uma foto dele dormindo no sofá, até hoje rs.

Ele era um garoto com muita vontade de conhecer as praias do Rio. Mas naquele outono de 2011, praticamente os 5 dias estavam nublados ou chuvosos. Acabamos dormindo num hotel, num desses dias, pra um pouco de privacidade. Fomos assistir o primeiro Thor, no cinema. Ficamos esperando meu amigo no shoppimg, onde ele trabalhava. Ele trabalhava em fechamento de loja. Ficamos esperando, até sermos chamados atenção por seguranças do shopping. Otávio já estava sentado no chão do shopping rs. Acabamos indo embora, voltando pra casa dos meus pais.

Tivemos o evento de anime em Niterói, que foi bem legal. Como estávamos muito sem grana, eu queria gastar e comprar algo de presente pra ele. Acabei comprando, escondido, quando ele foi no banheiro. Levei um sermão na volta, ao dar o presente, que fiquei sem graça. Ele falou que eu poderia esperar esar trabalhando, pra gastar com coisas assim.

Essa era uma grande diferença entre nós. Ele se sentia seguro, conseguia até visualizar nosso relacionamento, ao menos a médio prazo. Eu sentia, diariamente, o som do pó da ampulheta se encaminhando ao fim. Sabia que ia acabar, a qualquer momento. Era uma vibe " Brilho Eterno de uma mente sem lembranças ". 

E chegou o momento que eu queria adiar: Levar ele até a rodoviária. Ele estava super satisfeito, disse que gostou muito desses 5 dias. E eu sabia que, assim que ele fosse embora, eu voltaria a uma rotina muito insuficiente pra mim, naquela época. Pobre de afetos. Ficamos esperando o ônibus, com horário marcado. Nos abraçamos e nos despedimos. Disfarcei, pra parecer ser sereno e maduro. Assim que o ônibus saiu, me lembro de chorar a ponto de sentar no chão. Talvez tenha sido a maior sensação de desamparo, que senti, até aquele momento da vida. Ele, tão protagonista que era, meio que sabia que eu tava disfarçando pra não chorar e me ligou 1 minuto depois, de dentro do ônibus, pra dizer que tudo ficaria bem.

Gostaria muito de acreditar nisso, mas não era minha realidade! E eu precisava anestesiar aquele vazio, aquela dor imensa!

Continua...



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To be free is all we want to be - Parte 1

 


Perdi o sono mais uma vez, e não consegui voltar a dormir. Há um passarinho nos arredores da minha casa, que começa a cantar 3h da madrugada e por ter sono leve, acho que já amanheceu.

Foi numa noite dessas, de insônia, que conheci o Otávio. Era 2011, entrei no Bate Papo Uol, numa madrugada sem sono. Queria apenas conversar. Entrei na sala de amizade, até. Comecei a conversar com um garoto de Londrina PR. Conversa ótima, por sinal. Em uma época que a imagem estética não era tão primordial como hoje, nenhum dos dois sabia como era o outro, fisicamente, e estávamos apenas dialogando, sobre assuntos diversos. Se não me engano, trocamos MSN e ele estava sem foto. Essa parte, a memória me falha. Mas lembro bem que o primeiro assunto a render foi sobre animes. 

Naquela altura, eu tinha 26 anos e ele, 23. Eu estava recém separado do meu primeiro namorado e antes desse término, tivemos outros dois e acabamos voltando. Parecia algo inacabado, porém hiper desgastado. Otávio, por sua vez, já tinha sido casado. Lembro de ter me contado que o então marido, virou evangélico e quis virar um "ex-gay". Sim, infelizmente não é uma lenda urbana. Casos como este realmente existem. Éramos duas pessoas com traumas recentes, mas ainda com muita energia pra reagir.

Lembro do momento em que vi uma foto dele, pela primeira vez. Era uma foto numa praia quase paradisiaca. Se fosse hoje, acharia que foi criada por IA. Ele estava sorrindo, com filtro solar nas bochechas, como um ser angelical. Obviamente, guardo essa foto na minha Pandora Box. É uma memória afetiva poderosíssima. Me senti muito atraído, logo de primeira. Mas era tudo muito improvável. O que poderia acontecer? Pensando como pensei na época: Não somos adolescentes, estamos ambos desempregados e sem dinheiro. Qual a probabilidade de algo dar certo?

Comecei a criar utopias, na minha mente imaginativa e pensar em possibilidades. Sentia que ele também estava gostando de mim. Num dia, aleatório, resolvo perguntar: O que acha de sermos namorados virtuais? Como se fosse algo de brincadeira. Ele topou, de primeira. Confesso que esperava um não e fiquei sem ter repertório pra reagir ao sim. Comecei a criar, planejar outras camadas de possibilidades.

[ Essa postagem não será muito linear, confesso a quem lê. O que me motivou foi criar, cada vez mais, um backup, para as coisas que lembro e considero importantes. 13 anos depois, já começo a esquecer alguns detalhes, que antes eram nítidos na minha memória. E isso me deixa inquieto. ]

Voltando no tempo, em 2011, não havia whatsapp, nem smartphones para pobres. Conversávamos muito graças ao Tim Infinity, que era um plano que permitia fazer uma ligação sem limite de tempo, com R$0,25. E os SMS eram ilimitados. Sim, estou fazendo propaganda do lugar onde trabalho hoje. Desnecessário. Whatever! Esse plano fez com que a gente se sentisse muito próximo. Eram horas e horas de conversa, diariamente, falando sobre tudo. Tudo que o outro falava, interessava. Era uma troca incrível, quase impossível de imaginar nos dias de hoje. Lembro de um dia, em especial, que ele disse que ia jogar vôlei. Ele tinha esse hábito e já havia me contado. Perguntei, na ligação, se costumava demorar. Ele disse que ( vou chutar ), umas 3 horas. Tive a " brilhante " idéia de pedir pra deixar o telefone ligado, sem desligar a ligação. Ele não levava celular, acredito eu porque não tinha bolso no short que ele jogava. Fiquei esperando ele voltar, ao lado do telefone. Um pouco da previsão dele já tinha passado e comecei a ficar ansioso. Mandei mensagens no MSN, até esgotar minha inquietude e caí num sono, pela tarde. Acordo a voz dele no telefone, na ligação que estava no viva voz. Ele debochou da minha cara ( rs ), dizendo : " Tô aqui, Meu desespero ! " Foi uma das inúmeras vezes que me senti infantilizado, perto dele. 

Oscar Wilde sempre dizia que é uma grande tragédia conseguir o que se quer. Eu não sabia lidar com " ter conseguido ". Estava tudo bem ! Mas já rolava uma síndrome do impostor. Achava que a qualquer momento, eu poderia irromper e ter surtos de fúria e imaturidade. Ele era uma pessoa tão pronta, com 23 anos. Eu me sentia com 16, mentalmente. E aí começou uma sensação, que so fui entender com anos de terapia. Devo ter contado em outras postagens, mas sempre tive um esquema, um ponto fraco que me paralisava quando eu me sentia o " Player 2 ". O Otávio tinha uma beleza padrão, era desejado por quase qualquer pessoa. Tinha seus hobbies: jogava vôlei, sabia cozinhar muito bem ( tinha feito alguns períodos de gastronomia ), participava de um grupo de canto, tinha uma família que apoiava. Eu não sabia onde entrar, pra preencher/ consertar. A sensação era de que ele não precisava de mim e apenas não tinha se dado conta. E quando tomasse consciência, iria terminar comigo. Eu sempre estive em relações em que um completava o ponto fraco do outro e achava fundamental pra longevidade da relação, como um todo. Do jeito que eu me encontrava, naquele momento, seria visto apenas como " o namorado do Otávio ". E eu não conseguiria viver uma vida assim.

Continua...




 
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