quarta-feira, 16 de outubro de 2024

To be free is all we want to be - Parte 1

 


Perdi o sono mais uma vez, e não consegui voltar a dormir. Há um passarinho nos arredores da minha casa, que começa a cantar 3h da madrugada e por ter sono leve, acho que já amanheceu.

Foi numa noite dessas, de insônia, que conheci o Otávio. Era 2011, entrei no Bate Papo Uol, numa madrugada sem sono. Queria apenas conversar. Entrei na sala de amizade, até. Comecei a conversar com um garoto de Londrina PR. Conversa ótima, por sinal. Em uma época que a imagem estética não era tão primordial como hoje, nenhum dos dois sabia como era o outro, fisicamente, e estávamos apenas dialogando, sobre assuntos diversos. Se não me engano, trocamos MSN e ele estava sem foto. Essa parte, a memória me falha. Mas lembro bem que o primeiro assunto a render foi sobre animes. 

Naquela altura, eu tinha 26 anos e ele, 23. Eu estava recém separado do meu primeiro namorado e antes desse término, tivemos outros dois e acabamos voltando. Parecia algo inacabado, porém hiper desgastado. Otávio, por sua vez, já tinha sido casado. Lembro de ter me contado que o então marido, virou evangélico e quis virar um "ex-gay". Sim, infelizmente não é uma lenda urbana. Casos como este realmente existem. Éramos duas pessoas com traumas recentes, mas ainda com muita energia pra reagir.

Lembro do momento em que vi uma foto dele, pela primeira vez. Era uma foto numa praia quase paradisiaca. Se fosse hoje, acharia que foi criada por IA. Ele estava sorrindo, com filtro solar nas bochechas, como um ser angelical. Obviamente, guardo essa foto na minha Pandora Box. É uma memória afetiva poderosíssima. Me senti muito atraído, logo de primeira. Mas era tudo muito improvável. O que poderia acontecer? Pensando como pensei na época: Não somos adolescentes, estamos ambos desempregados e sem dinheiro. Qual a probabilidade de algo dar certo?

Comecei a criar utopias, na minha mente imaginativa e pensar em possibilidades. Sentia que ele também estava gostando de mim. Num dia, aleatório, resolvo perguntar: O que acha de sermos namorados virtuais? Como se fosse algo de brincadeira. Ele topou, de primeira. Confesso que esperava um não e fiquei sem ter repertório pra reagir ao sim. Comecei a criar, planejar outras camadas de possibilidades.

[ Essa postagem não será muito linear, confesso a quem lê. O que me motivou foi criar, cada vez mais, um backup, para as coisas que lembro e considero importantes. 13 anos depois, já começo a esquecer alguns detalhes, que antes eram nítidos na minha memória. E isso me deixa inquieto. ]

Voltando no tempo, em 2011, não havia whatsapp, nem smartphones para pobres. Conversávamos muito graças ao Tim Infinity, que era um plano que permitia fazer uma ligação sem limite de tempo, com R$0,25. E os SMS eram ilimitados. Sim, estou fazendo propaganda do lugar onde trabalho hoje. Desnecessário. Whatever! Esse plano fez com que a gente se sentisse muito próximo. Eram horas e horas de conversa, diariamente, falando sobre tudo. Tudo que o outro falava, interessava. Era uma troca incrível, quase impossível de imaginar nos dias de hoje. Lembro de um dia, em especial, que ele disse que ia jogar vôlei. Ele tinha esse hábito e já havia me contado. Perguntei, na ligação, se costumava demorar. Ele disse que ( vou chutar ), umas 3 horas. Tive a " brilhante " idéia de pedir pra deixar o telefone ligado, sem desligar a ligação. Ele não levava celular, acredito eu porque não tinha bolso no short que ele jogava. Fiquei esperando ele voltar, ao lado do telefone. Um pouco da previsão dele já tinha passado e comecei a ficar ansioso. Mandei mensagens no MSN, até esgotar minha inquietude e caí num sono, pela tarde. Acordo a voz dele no telefone, na ligação que estava no viva voz. Ele debochou da minha cara ( rs ), dizendo : " Tô aqui, Meu desespero ! " Foi uma das inúmeras vezes que me senti infantilizado, perto dele. 

Oscar Wilde sempre dizia que é uma grande tragédia conseguir o que se quer. Eu não sabia lidar com " ter conseguido ". Estava tudo bem ! Mas já rolava uma síndrome do impostor. Achava que a qualquer momento, eu poderia irromper e ter surtos de fúria e imaturidade. Ele era uma pessoa tão pronta, com 23 anos. Eu me sentia com 16, mentalmente. E aí começou uma sensação, que so fui entender com anos de terapia. Devo ter contado em outras postagens, mas sempre tive um esquema, um ponto fraco que me paralisava quando eu me sentia o " Player 2 ". O Otávio tinha uma beleza padrão, era desejado por quase qualquer pessoa. Tinha seus hobbies: jogava vôlei, sabia cozinhar muito bem ( tinha feito alguns períodos de gastronomia ), participava de um grupo de canto, tinha uma família que apoiava. Eu não sabia onde entrar, pra preencher/ consertar. A sensação era de que ele não precisava de mim e apenas não tinha se dado conta. E quando tomasse consciência, iria terminar comigo. Eu sempre estive em relações em que um completava o ponto fraco do outro e achava fundamental pra longevidade da relação, como um todo. Do jeito que eu me encontrava, naquele momento, seria visto apenas como " o namorado do Otávio ". E eu não conseguiria viver uma vida assim.

Continua...




2 comentários:

O Gato de Cheshire disse...

Este felino está assustados com a quantidade de coincidência que há entre as nossas histórias. Eu tbm conheci meu marido na UOL; ele tbm morava em outro estado; ambos tbm vinham de relações terminadas há pouco; n estávamos desempregados, mas ambos ganhávamos bem pouco e o ano no nosso caso foi 2009, mas fomos morar junto em 11.

Tô casado faz 13 anos, se for contar tempo de namoro virtual é 15, volta e meia alguém me pergunta a fórmula e eu sempre digo que é a vontade de ambas a partes de viver a vida conjugal, o resto vai se ajeitando, pq no nosso caso afinidade veio com o tempo, não podíamos ser mais diferentes, claro que tínhamos uma ou outra, mas ramos bem mais diferentes do que somos hj por exemplo, depois de tanto tempo vivenciando coisas juntos. Aqui tbm tem um pouco de ousadia sobretudo da parte dele, que largou tudo e veio, da minha parte foi um pouco de inocência mesmo, pq acho que fiz sem ter noção do passo que estava dando, se tivesse pensado é possível que me acovardasse. Confesso que tô curioso pra saber os desdobramento da sua história e cruzando os dedos pra continuação não ter um hiato tão grande como tem feito por aqui, pq eu posso até ir no zap te perguntar, mas quero viver a experiência completa de leitor de blog e aguardar ansiosamente, só n seja cruel comigo com o tamanho desse hiato.

OBS: Uma lição que ficou pra mim na minha história é a percepção de que mesmo nos lugares mais improváveis e das situações mais inóspitas algo pode florir com boa vontade e real desejo, esse sentimento marcou muito as minhas relações futuras. Sente isso tbm?

Wildeman disse...

Vou tentar concluir em breve, camarada. Que bom que sua história durou até os dias de hoje. Fico feliz!

 
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