A vida vai dando sinais de que sempre seguirá indo em frente. Na última semana, completei 40 anos e estes números são bom divisores de águas: Oportunidade de refletir sobre o que ainda faz sentido e o que não faz mais.
Uma série que marcou minha juventude e que ainda revejo, junto a meu companheiro, de vez em quando, é The Vampire Diaries. Muitos me perguntam, por que eu, que gosto de tramas mais rebuscadas, me encanto por algo aparentemente fútil e raso. A série é bem adolescente, mas fala muito sobre morte, luto, perdas no geral... mas principalmente sobre amizade, relacionamentos e o valor da palavra dita. Essa foto é de um episódio ( 4x02 ), em que os personagens resolvem parar, pra se despedir das pessoas que já se foram. Sim, é uma sequência de eventos tão traumáticos e acachapantes, que eles não tiveram tempo pra assimilar o luto. Um fato marcante e relevante, foi que ao pesquisar por essa foto, descobri que a autora da obra, que virou série, faleceu neste março de 2025. Muito simbólico.
Pensei em me despedir, nesta postagem, de várias pessoas, que se foram. Estando vivas, ou não. A principal delas, obviamente, é minha mãe. Ela partiu em dezembro de 2021 e desde então, tenho lidado com esse vazio, dia após dia. Acho que não tenho como deixá-la ir. Faz parte de mim. Nos últimos meses, realizei parte dos últimos cuidados com o corpo dela: Optei pela cremação dos restos mortais e devolveremos ela ao mar, à natureza marítima dela, de uma família de pescadores. As cinzas dela estão guardadas aqui, até marcarmos um dia pro ritual, em que ela voltará a natureza. Um agradecimento por toda a vida e o cuidado que ela sempre teve com todos. Meu companheiro acompanhou toda a exumação e fiquei apenas observando de longe. Não havia psicológico pra ver de perto, os ossos e tudo mais. Fiz o que pude, pra não deixar que descartassem o corpo dela, como lixo. O corpo dela gerou a minha vida e precisava ter esse zelo. Pra mim, é o mínimo.
Nos últimos anos, também me despedi de amizades, que eu achava que seriam pra sempre, por já terem mais de uma década. Porém, os desentendimentos da vida online, as mudanças de perspectivas e os traumas de cada um, geram muitos desencontros. Me afastei e deixei ir. Sempre acho que se em alguma situação, o problema da pessoa sou eu e a vida dela melhorará estando longe de mim, ficarei feliz em solucionar essa questão, indo embora. E não volto mais.
Isso vale também pra antigos amores e afetos. Mantive contato com muitos, como forma de manter minha memória viva e vê-los avançando na vida. Porém, vivemos em uma sociedade extremamente utilitarista. Muitos vêem o "manter contato " como algo que precisa ter algum objetivo. Não vale mais nada apenas ter carinho e se preocupar com a pessoa. Não. Isso sem contar com a enorme dificuldade das pessoas em lidar com seu próprio passado, suas escolhas e suas não escolhas, que fizeram este presente. Deixei ir.
E acreditem ou não, também há perdas, pra mim, que são simbólicas, por serem artistas ou personagens, que fazem parte da construção da minha identidade. Alguns se foram, e a ficha não caiu. Talvez por eu gostar tanto, ou porque a obra se torna quase que imortalizada, seja por forma de música, filmes, livros, seja pelo impacto que eles tem na minha memória. Deixarei alguns exemplos e me despeço por hoje.
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George Michael |
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Michael Jackson |
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Dolores O'Riordan ( The Cranberries ) |
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Maurice e Robin Gibb ( Bee Gees ) |
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Johann Johanson ( Trilha sonora filme Teoria de tudo ) |
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Marie Fredriksson, vocalista do Roxette |
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Whitney Houston |
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David Bowie |
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Zygmunt Bauman |
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Robin Williams |
Nunca me esqueço de um vídeo da Maria Homem, em que ela fala do mito de que universidade pública é uma zona, no sentido de festas, drogas e sexo. Ela joga no ar uma reflexão que pode doer em muitas pessoas:
- Será que o outro está gozando mais que eu ?
Mas por que começar com esta reflexão dela? Bom, tenho conversado com muitas pessoas, nos apps do Brasil afora, e também com amigos e leitores do blog. Em várias ocasiões, surge o assunto das novas " regras " dos relacionamentos, das aberturas, fechamentos e whiskas sachê... Acontece que o tema relacionamento aberto era muito mais tabu que hoje em dia. No entanto, muito se fala, atualmente, no tema, o que faz surgirem pessoas que se consideram experts ou mesmo que aproveitam a onda pra surfar num falso moralismo.
E tentam te colocar um rótulo, de qualquer jeito:
- Se você vê pornô e transa pouco, tá errado;
- Se você se considera monogâmico e flerta, tá errado ;
- Se você está em apps, como o Grindr, mesmo com o parceiro sabendo, está errado;
- Se você lembra de um ex, com algum desejo, tá errado, pois significa que não deseja o atual;
Bom, eu poderia ficar dias listando os absurdos que ouço e do que as pessoas esperam de comportamentos alheios...
E quando se trata de uma pessoa com quase 40, gorda, PCD e que ainda consegue ficar com mais novos, soa como uma afronta a algumas pessoas. Já cheguei a ouvir algo como:
- Você deveria ser grato por estar num lugar de privilégio ( em ter alguém ) ! Como ousa não estar satisfeito com o que já tem e muitos querem?
Ora, ora, ora. Nisso eu viro pro meu namorado e conto. E pergunto, dando risada, se sou grato. Ele ri e confirma que sim. E é divertido ver pessoas se incomodando tanto ou querendo editar regras nos relacionamentos alheios.
Isso quando não vem aquela bee que quer competir.
- Me mostra seu namorado. Quero ver se é mais bonito que eu !
Bicha, melhore. Você será apenas a marmita. E tá tudo bem. Ser marmita é vantagem pra muita gente e conheço alguns que até preferem. Nem tudo é sobre protagonismo. Ás vezes deixar este palco, atiça até mais um pouco o flerte.
Voltando aos fiscais de relacionamento aberto, que às vezes querem converter o monogâmico, como se fossem testemunhas de jeov@, estes cidadãos vão ficando cada vez mais ressentidos, ao notar que resisto a entrar nestes rótulos.
- Mas se você tá no app, seu relacionamento é aberto, né?
e respondo:
- Depende. Se for pra alguém que interesse aos dois e se interesse por nós, talvez seja. E talvez deixe de ser a qualquer momento. Não é uma licença, tipo PMO...
E a patrulha do relacionamento aberto já estava com nossas fotos e nomes impressos, pra confeccionar um crachá. Tudo aparentemente gratuito. Não se dêem o trabalho, amigas. Aqui tá tudo bem. E tá tudo bem pra quem nos acha retrógrados, incoerentes e disruptivos. Neste caso, em específico, não vamos nos rotular.
Uma pergunta que gosto de fazer antes de qualquer possibilidade de discussão ou atrito:
- Sou obrigado?
Caso não seja... prefiro não... como faria o célebre Bartleby, de Melville.
Amo a Mariah Carey, desde que me entendo por gente e ouço música. Com o tempo, surgiu o rótulo de rainha do shade. Uma forma de denominar a estratégia de ironia/humor/deboche que ela parece usar sempre em suas aparições públicas.
Bom, num blog de astrologia, descobri que o mapa dela se parece muito com o meu. Logo, vi semelhanças também, na estratégia, quase que automática do " shade ". Parece muito com um ataque leve, que também tem um pouco de defesa e usando um pouco do humor, pra não causar grandes estragos. É uma espécie de válvula de escape e tipo " segue o jogo ".
Obviamente, muitas pessoas não lidam bem com esta estratégia. E o balde vai enchendo, até transbordar. Por isso, venho tentado usar o shade com moderação e da forma mais consciente possível. Sim, acredito que abandonar, de vez, seria bem dificil rs.
Como vocês lidam com o shade? Usam? Recebem?
Olá, povo!
Fiquei com essa idéia matutando e resolvi escrever sobre o que falam sobre nós ( no caso, em especifico, sobre mim ). Durante boa parte da minha vida, eventos como os que vou exemplificar a seguir, ocorreram, com frequência. Tenho 3 exemplos pedagógicos pra compartilhar com vocês :
1- O conselheiro de relacionamentos, sem experiências práticas :
Um amigo de um amigo, se tornou próximo, por volta de 2013. Ele nunca tinha tido um relacionamento e já tinha passado dos 25 anos. Mas sempre tinha respostas prontas e aparentemente cheias de sabedoria, pra aconselhar quem estivesse por perto. Nesta época, eu tinha terminado meu primeiro relacionamento longo e estava solteiro. Esse colega, que vamos chamar de Fabinho, fazia uns comentários de duplo sentido, que às vezes davam a entender que tivesse interesse em mim. Bom, nunca tive uma boa percepção da minha imagem e na dúvida, sempre acho improvável que alguém esteja a fim de mim. Segui o jogo, normalmente.
Certo dia, na época que se usava Facebook, vi o Fabinho postar algo no status e um garoto chamado Ícaro comentar. Fui no perfil do garoto e UAU! Que atraente! Pedi pro Fabinho me apresentar. Ele disse que não, e " que não era pro meu bico ". Não sei se o comentário era por ele achar o garoto areia demais pra mim ou por ser um ex de um amigo dele. Enfim, convenci o Fabinho a me marcar numa publicação com ele. E puxamos assunto. Bom, tivemos dois meses de bom sexo com este garoto Ícaro, e Fabinho ficou mudado. Notei que ele se afastou um pouco.
Meses depois, conheço um garoto muito interessante no Grindr. Começamos a conversar sobre diversos assuntos e ele pede pra me add no Facebook. Lá ele nota que temos um amigo em comum: o Fabinho! E esse boy me diz que Fabinho é como um tutor pra ele, etc. Hum... vamos averiguar. Puxei assunto com Fabinho sobre o garoto, dizendo que ele é muito maneiro. Fabinho solta essa :
- Já alertei ele sobre você !
Oi? Como assim? Pergunto sobre o que alertou. E ele não explicou. O carinha lá simplesmente parou de falar comigo. E me afastei do tal Fabinho, de vez. Que parada bizarra.
2- Uma ex amiga que reencontro após 15 anos :
Diani e eu, tivemos um relacionamento curto na pós adolescência, que virou amizade. Tivemos uma divergência de opiniões em 2009 e paramos de nos falar. Mas sempre senti falta das longas conversas que tínhamos, sobre tudo, na época do telefone fixo. Enfim, consegui achar o Instagram dela, depois de muito tempo. Lá, tinha um e-mail e resolvi enviar mensagem por lá. No e-mail, digo que em algumas coisas ela estava certa e perguntei se poderíamos voltar a conversar. Ela me adiciona no whatsapp e voltamos a ter as longas conversas de antes. Nisso, ela me mostra os vários caras que ela estava a fim, no momento e no dia seguinte, posta um story com um cara aleatório. Pergunto a ela quem era ( se era algum dos que me mostrou ) e ela me responde :
- Agora você vai catalogar todos os meus amigos? Esse é o Gabriel, você conhece ele. É meu melhor amigo. Ele foi num rodízio em 2009 e você estava lá...
E eu expliquei, que não lembro o que almocei ontem. Nisso, eu me lembrei que tinha suspeitas de que as amizades dela tinham ciúme da minha conexão com a Diani. E do nada, ela fica estranha.
No dia seguinte, ela diz que " não está preparada pra voltar a ter amizade comigo " e resolve cortar contato novamente. Que estranho, né? Bom, talvez, não...
3- A tia venenosa e ressentida :
Após o falecimento da minha mãe, mantive contato com alguns parentes que eu já não falava há tempos e achava que seria interessante trocar experiências sobre ela, com relatos de memória e até uma possível rede de apoio afetiva. Uma tia, irmã mais velha da minha mãe, que vou chamar de Leda, tem duas filhas. Uma dessas primas é a mais velha da família, eu sendo o segundo e a outra prima era a ovelha negra, como eu. A prima caçula era muito minha amiga e mudou muito após a partida da minha mãe. Inclusive é uma outra idéia de postagem : O quanto algumas pessoas que sempre quiseram achar uma brecha pra me atingir, acharam que eu estava enfraquecido no período de luto, pra tentar me atacar. Enfim, passei a falar quase nada com minhas primas e mais com essa tia. E essa minha tia perguntava o por que eu não estava falando com as filhas dela, sendo que elas nunca me procuravam. Falei que atualmente, só procuro quem me procura, salvo raras exceções.
E nisso, uma tia mais nova, que todos da família diziam ser a errada, voltou a ter contato comigo, depois do que aconteceu com minha mãe, vamos chamar de Duda. Essa minha tia Duda tinha se desentendido com minha mãe e inclusive eu fui inclinado a cortar contato também. Longa história. Sendo que minha tia Leda, por não gostar da minha tia Duda, acha errado eu ter contato com ela e dizendo que minha mãe não iria gostar. E toda vez que eu deixava claro que minha tia que eu fiquei 20 anos sem falar era a que me entendia e me apoiava, essa tia Leda ficava irritada.
Mês passado foi aniversário da minha mãe, o terceiro sem ela aqui. Resolvo compartilhar uma foto com alguns parentes, entre eles, minha tia Leda. E ela me responde:
- É, meu sobrinho. Tava falando agora com sua prima Alice sobre isso. Que tristeza !
E eu pensando, mas é sobre minha mãe, né? Onde eu entro? E ela completa:
- Inclusive sua prima perguntou por você !
E eu respondo dizendo que ela tem meu contato, que não precisa terceirizar esse tipo de pergunta. Nisso, minha tia muda de assunto e que sente muita falta dessa minha prima, que se mudou pra Portugal. Nisso, eu digo a ela, já sabendo do contexto (minha prima não aturava mais a própria mãe e deixou tudo pra trás ), que nossa estrutura familiar é de rupturas: de irmãos, pais, filhos, sempre em conflito, um puxando o tapete do outro, dando calote, agressões, etc. Que tirando minha tia Duda, era tudo mais do mesmo.
E minha tia Leda resolve abrir a caixinha de ferramentas, dizendo que eu " estou assim agora " porque sempre me achei melhor que o resto da família, que nunca respeitei minha avó e nem minha mãe. E começou a apelar mesmo. Nisso ela emenda dizendo que é por esse meu jeito que " as pessoas tem medo de me procurar ". E parei por aí, até rindo um pouco. Sabe aquela deturpação da realidade que todo manipulador faz? Mas é tão rasa, tão superficial, que é digna de riso. E ela deixa transparecer a opinião que sempre teve sobre mim e que sempre vomitou nas pessoas, inclusive pra minha mãe.
Conclusão :
O que os 3 casos tem em comum? Pessoas com algum incômodo, em relação a mim, que não conseguem resolver e ou se apoiam na opinião de terceiros pra ter a própria ou distorcem a realidade pra tentar " fazer minha caveira ", como se eu me importasse. Sinceramente, as únicas pessoas que eu me importo com o que pensam, verdadeiramente, sobre mim, era minha mãe e hoje, meu companheiro. O restante, pode pensar o que quiser. Pensar, é grátis e não me importo nem um pouco. E pensar que, nesta altura do campeonato, alguém ainda tenha tempo e energia livres pra fazer alguém não gostar de outra pessoa. Realmente, o que cada um faz do tempo ocioso que lhe resta, é instigante! Por aqui, eu me afasto dos manipuladores baratos e, principalmente, nos que caem nas histórias que falam sobre mim. Esses são tão ou piores do que aqueles que bolam as mentiras.
To be free is all we want to be - Parte Final - Director's cut
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O laço que Otávio colocou na minha caixa de trufas. |
To be free is all we want to be - Parte 2 de 3
Maio de 2011. Amy Winehouse ainda estava viva. Primeiro ano de mandato de Dilma Rousseff.
Estávamos nos sentindo cada vez mais conectados e próximos. Senti que era o momento de arriscar. Se um de nós voltasse a ter um emprego, seria cada vez mais difícil. Calculei quanto custaria pra que ele viesse ao Rio. Resolvi perguntar a ele o que achava da idéia. Decidimos usar nossa pouca reserva financeira, pra passar uma semana juntos. Ainda assim, seria o suficiente, no máximo pra passagem e algumas saídas de baixo custo, por aqui rs. Ainda assim, pedi ajuda a um grande amigo, pra que o Otávio pudesse dormir lá, pois eu ainda morava com meus pais e havia todo aquele cerco homofóbico, ainda que velado e indireto.
Hoje, posso sentir como era ridículo ter que inventar histórias para meus pais, pra receber um " amigo " em casa. Alegamos que ele veio ao Rio pra um evento de anime, em Niterói. Realmente, iríamos ao evento, mas não era o principal motivo rs.
13 de maio de 2011. Como diria Fernando Pessoa, seria um " dia triunfal na minha vida ". Chegou o momento de recebê-lo na rodoviária. Sim, não havia a mínima possibilidade de ele vir de avião. São 17 horas de viagem, dentro de um ônibus, pra vir me encontrar.
[ É aí que eu lembro: " Pra quem achava que eu tava na pior... pohan! " ]
O ônibus atrasou um pouquinho, além do previsto. Tentei ligar pra ele pra perguntar e o telefone dava fora de área, na região serrana aqui do Rio, a caminho da cidade. Eis que ele desce do ônibus e vem na minha direção. Senti minha alma saindo do corpo, um pouquinho. Não sabia o que falar. E ele, chega quebrando o gelo : " Tava me ligando, bocó? ".
Passado aquele frisson dos minutos iniciais, parecia que já nos conhecíamos, de tanto que conversamos durante um mês. E fomos pra casa dos meus pais, pra deixar a mala dele. Foi aí que eu reparei em algo, que na época, eu achei que fosse algo mágico ou resultado do carisma do Otávio : Meus pais trataram ele como um principe. Perguntaram sobre a vida dele, se interessaram pelas coisas que ele contava. Fiquei pasmo! Bom, ele era branco, sulista, não afeminado. Meu primeiro namorado não era branco e tinha um tom menos heteronormativo. Sem contar que meus pais cismavam que o JJ tinha me " convertido ". Mas que c* de mel, né? Voltando ao assunto...
Um outro parêntese relevante, é que na época, meu metabolismo estava a todo vapor: eu comia muito e tinha no máximo uma pochete de barriga. Eu devia vestir 44, pra terem uma idéia. Minha deficiência, neuro degenerativa, tava em seu estado inicial e praticamente não me impedia de nada. Então, sendo branco, atv e aparentemente hetero normativo, era como se eu pulasse várias etapas na " prateleira". Ainda assim, perto dele, eu me sentia um impostor.
Tivemos nossa primeira vez, já naquele dia. Saímos de um motel e fomos jantar num restaurante. Em seguida, encontraríamos com meu amigo, que iria oferecer hospedagem pro Otávio. Esse meu amigo quis mostrar a Lapa e a noite carioca pro Otávio, que estava pela primeira vez no Rio. Bom, primeiramente sempre me senti velho pra esses eventos, principalmente por ser fraco pra álcool e não gostar de ficar na rua de madrugada. Otávio achou legal o tour e nisso, meu amigo encontra uns conhecidos gays numa praça, nos Arcos da Lapa. Fiquei num canto, conversando com Otávio, perguntando se ele tava se sentindo cansado. Havia todo o desgaste da viagem, etc. Nisso, eu reparo que os conhecidos do meu amigo estavam " secando " o Otávio, de longe. Sem contar as pessoas que passavam. Se eu pudesse, teria materializado uma bolha, estilo Sonic, com insul film. Por sorte, o Otávio disse que estava com sono e foi a deixa pra sairmos daquela armadilha, que ativou todos os meus gatilhos de insegurança rs. Já era por volta de 2h da madrugada e fomos esperar um ônibus pra Zona Norte do Rio. Lembro que tinha uns caras bêbados, puxando assunto, no ponto de ônibus. Não se sabia se eram gays ou não. E quando entramos no ônibus, Otávio encostou no meu ombro e dormiu. Eu passei a olhar em volta e estava pronto pra reagir a qualquer tentativa de ataque, que pudesse ocorrer. Que bom que não aconteceu nada.
Ah, mas que época divisora de águas! Existia violência urbana? Claro que sim. Mas não ainda não tinha acontecido a ruptura social, que ocorreria anos depois, pós golpe na Dilma. Digo isso, porque a casa desse meu amigo era em uma comunidade, que hoje em dia, seria impossível de entrarmos. Até mesmo ele precisou se mudar de lá. E deu tudo certo, dormimos lá, nós 3, em colchões no chão do quarto. Dormi o sono dos justos rs. Quando acordamos, meu amigo já tinha saído pra trabalhar. E lembro de ele dizer pro Otávio " se sentir em casa ". Bom, rolou né? Meu amigo riu e falou que tiramos a virgindade do quarto dele. Que nem ele tinha transado no próprio quarto kkk.Perguntei o que achou do Otávio, e meu amigo comparou o humor dele com o Rei Julian, de Madagascar.
Saímos da casa do meu amigo e voltamos pra casa dos meus pais, até porque ele precisava pegar roupas na mala, que tinha ficado lá. Meus pais chegaram a dar uma saida rápida e o Otávio, hiper responsável, me disse pra não arriscar nada, pra que não corrêssemos o risco de sermos pegos em flagrante e passar por perrengue desnecessário. Vontade não faltou. Colocamos um filme pra assistir. Na época, baixava filmes em Torrent, no desktop. O filme Bruna Surfistinha era recente e acabamos assistindo. Lembro que acendemos umas velas aromáticas ( ok, não transar, mas meus pais verem a gente assistir filme com velas aromáticas, tava liberado? Uhum... ). Pra nossa surpresa, minha mãe perguntou se ele ia dormir lá. Que bom que teve essa abertura! Infelizmente, optamos por ele dormir no sofá da sala. Queria muito que ele dormisse no quarto comigo, mas não deu. Fiquei na porta do quarto, como um psicopata, até que ele dormisse. Tenho uma foto dele dormindo no sofá, até hoje rs.
Ele era um garoto com muita vontade de conhecer as praias do Rio. Mas naquele outono de 2011, praticamente os 5 dias estavam nublados ou chuvosos. Acabamos dormindo num hotel, num desses dias, pra um pouco de privacidade. Fomos assistir o primeiro Thor, no cinema. Ficamos esperando meu amigo no shoppimg, onde ele trabalhava. Ele trabalhava em fechamento de loja. Ficamos esperando, até sermos chamados atenção por seguranças do shopping. Otávio já estava sentado no chão do shopping rs. Acabamos indo embora, voltando pra casa dos meus pais.
Tivemos o evento de anime em Niterói, que foi bem legal. Como estávamos muito sem grana, eu queria gastar e comprar algo de presente pra ele. Acabei comprando, escondido, quando ele foi no banheiro. Levei um sermão na volta, ao dar o presente, que fiquei sem graça. Ele falou que eu poderia esperar esar trabalhando, pra gastar com coisas assim.
Essa era uma grande diferença entre nós. Ele se sentia seguro, conseguia até visualizar nosso relacionamento, ao menos a médio prazo. Eu sentia, diariamente, o som do pó da ampulheta se encaminhando ao fim. Sabia que ia acabar, a qualquer momento. Era uma vibe " Brilho Eterno de uma mente sem lembranças ".
E chegou o momento que eu queria adiar: Levar ele até a rodoviária. Ele estava super satisfeito, disse que gostou muito desses 5 dias. E eu sabia que, assim que ele fosse embora, eu voltaria a uma rotina muito insuficiente pra mim, naquela época. Pobre de afetos. Ficamos esperando o ônibus, com horário marcado. Nos abraçamos e nos despedimos. Disfarcei, pra parecer ser sereno e maduro. Assim que o ônibus saiu, me lembro de chorar a ponto de sentar no chão. Talvez tenha sido a maior sensação de desamparo, que senti, até aquele momento da vida. Ele, tão protagonista que era, meio que sabia que eu tava disfarçando pra não chorar e me ligou 1 minuto depois, de dentro do ônibus, pra dizer que tudo ficaria bem.
Gostaria muito de acreditar nisso, mas não era minha realidade! E eu precisava anestesiar aquele vazio, aquela dor imensa!
Continua...