sábado, 12 de junho de 2021 0 comentários

Rominho

 


Fui diagnosticado com Covid, nesta semana do dia dos namorados, em 2021. Talvez por ter tomado a primeira dose da vacina, não tive muitas complicações. Estou me recuperando, na casa dos meus pais. Meu namorado cuidou de mim na primeira semana, e temi quanto a uma contaminação dele.

Hoje, dia dos namorados, não estamos perto um do outro. É nosso terceiro dia dos namorados juntos. Concordamos em dar um passo a frente na relação, com a união estável, nos próximos meses.

Até hoje não consegui expressar muito bem nossa relação com palavras. Eu, que sempre considerei simples colocar " no papel " os sentimentos e vivências, me vi num hiato. 

Temos muitos silêncios. Talvez por não termos nenhuma pendência a resolver. Raramente discutimos. Quando estamos juntos, parece que qualquer coisa pode ser agradável... desde assistir a um filme, até mesmo não fazer nada.

Em agosto, faremos 3 anos juntos e parece que seguimos uma história sem muitos problemas. Ao encontrá-lo, senti que esta poderia ser minha última relação. Procurei descansar e desacelerar. Não preciso provar sentimentos pra ele, tampouco reafirmar minhas qualidades. Ele já sabe e já sente minha presença e meu caráter.

Os dias juntos passam rápido e tem cheiro de algodão.

A cada dia longe dele, sinto que envelheci dois dias.

Que ele lembre sempre que o amo muito. 




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Eric - Butterfly Effect

 


Eric nasce no dia 21/01/2010. Mariana, está com 22 anos e eu, 24. 

Como fazer com que tudo dê certo ? Sinceramente, não planejei nada. Foi tudo um grande choque, quando me dei conta da responsabilidade que seria, colocar um ser vivo a mais neste planeta.

Fiquei um pouco mais tranquilo por ser um menino, pois a Síndrome de Charcot Marie não seria passada pra seus descendentes diretos. Talvez ele tenha o gene, mas não se manifestará, pois o cromossomo só atuaria se fosse passado pela mãe.

Gostaria de entender o que acontece no cérebro masculino, assim que a namorada vira mãe. A vontade de sexo esfria muito e parece que não consigo vê-la como antes. Não consigo encaixar os motivos e racionalizar isso tudo. Apenas não consigo.

Ganhando o salário que eu ganhava na Light, ficava impossível fazer planos. Resolvi começar o curso de Administração, em uma faculdade no Centro. Recebi ajuda do meu pai. Mesmo assim, a verba era muito apertada. Sorte que a Mariana voltou a trabalhar seis meses após o nascimento do garoto.

Não conseguia visualizar um final feliz de filmes de sessão da tarde. Uma casa com quintal, o garoto com um cachorro brincalhão, um carro na garagem. Tudo me era estranho e castrava o meu eu.

Mariana acabou alugando uma kitinete na zona norte. Eu ajudava, na medida do possível. O Eric ficava com minha mãe, na parte da manhã e da tarde. Não dava muito trabalho, segundo minha mãe. Gostava de jogos, quadrinhos e não tinha muitas vontades.

Pra Mariana também não foi fácil. Contei sobre minha bissexualidade e nosso relacionamento meio que ruiu, na metade da gestação. Não ia conseguir esconder isso pra sempre. Parece que ela não me odeia. Mas a representação que ela fazia da minha pessoa, meio que se quebrou.



O aniversário de 11 anos do Eric foi há alguns meses. E notei que ele já entendia muitas coisas sobre a vida e como funcionavam as relações. Resolvi abrir o jogo e explicar os motivos pelo qual eu não tinha uma vida com a mãe dele. Ele me abraçou forte e disse que já desconfiava, de certa forma. Explicou também que aceita as diferenças das pessoas e que entende. Na escola mesmo, ele já tinha alguns amigos gays, que não eram isolados, como na minha geração. Aproveitei pra dar espaço a ele, caso venha a descobrir algo diferente na sua sexualidade, que começaria a aflorar dali pra frente.

A família da Mariana e a minha sempre foram muito conservadoras, pra não dizer atrasadas, neste sentido. O meu trunfo, e talvez o único, com meu filho, talvez fosse o de ser uma pessoa mais atemporal, que pudesse conversar com ele, como se tivesse a mesma idade. Como se eu entendesse sempre o que é ter 12 anos.

Será que isso compensaria minha falta de afeto para com ele ? Sempre enchi ele de jogos, de livros, de revistas. Nunca quis sufocá-lo, com regras ou sermões. Achava suficiente olhar de longe, estar ali pro que precisar. Às vezes, no desenvolvimento de um adolescente, muito ajuda quem não atrapalha.

Após a conversa, talvez ele entenda melhor quando ver a mãe com outros caras. E que não há nada de errado nisso. Não quero que ela se prenda, esperando que por algum milagre, eu me torne um chefe de família, que chegue engravatado, com flores e uma pizza no final do expediente de sexta-feira. 

Esse não sou eu.


 
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