terça-feira, 30 de agosto de 2022 0 comentários

Encantamento





 Em 2021, li meu primeiro livro de Thomas Mann : Morte em Veneza. A obra talvez seja a mais marcante que já li até hoje. O autor tocou num tema crucial e tive a sensação de como ele me entendesse ou vice versa.

A questão da busca não só pelo belo, mas do sublime, me acompanhou desde o início. Eu só não sabia. Tive pelo menos 4 oportunidades de me deparar com uma sensação assim. De me deparar com alguém que reúne todo o imaginário dentro de mim e até de descobrir o que eu gostava e não sabia. Foram divisores de águas. Em todas as vezes, me vi à deriva, a mercê do objeto de desejo, inoperante, paralisado. Entendo totalmente como o Gustav von Aschenbach se sentia na obra de Thomas Mann.

Em todas as oportunidades, eu sentia, mesmo que inconscientemente, que aquela relação poderia me levar à total destruição. Tomava decisões precipitadas. Estava ansioso, com medo de perder cada momento. Trocando os pés pelas mãos. Era como se eu tivesse voltado a ser criança ou tivesse me tornado um idoso com sérios problemas cognitivos. Manter aquilo por muito tempo não seria sustentável.

A última vez que isso ocorreu comigo, foi em 2017. Parecia que estava enfeitiçado. Apressei tudo e me deixei dominar pela insegurança. Mas não posso deixar de refletir em como essas pessoas dizem muito sobre mim. O quanto fui afetado por elas. Nunca mais fui o mesmo.

Quando li Morte em Veneza, ficou muito marcado pra mim, ouvir Tomaso Albinoni ( veneziano, coincidentemente ). Acho que teria sido uma ótima trilha sonora pra esta grande obra. Recomendo também o filme , do diretor Luchino Visconti.





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Adocicado

 



Acordamos depois do meio dia. É final de semana.

 Se eu não o acordo, passa das 14hrs. Vamos fazer um café? Ele aprendeu a fazer na Cafeteira Italiana. Moemos o café na hora e sai aquele cheirinho delicioso. 

O que comeremos? Ele prefere cereal ou pão suíço. Eu, prefiro biscoito de arroz, com cream cheese ou torrada Petrópolis.

Assistimos alguma futilidade no Youtube. Conversamos. 

Começo uma partida de xadrez online e ele, um dos jogos multi players da atualidade ( como LOL ).

Pediremos almoço ou prepararemos algo na cozinha ? Tanto faz. Comemos juntos.

Dá aquela preguiça depois do almoço e só não dormimos, porque acordamos muito tarde.

Assistimos algo no streaming. 

Hora de dar uma arrumada na casa. Eu tiro o pó, com aspirador e pano. Ele, lava a louça.

Os dias passam bem devagar e de forma branda, quando ele está por aqui.

Estamos sempre perto. Deito por perto e peço um afago. Me chama de carente, pra me provocar.

Dificilmente saímos. Pergunto se quer sair. Diz que não. Prefiro ficar em casa também. A pandemia, dentre muitos males, trouxe algumas compensações, como tornarmos a nossa casa mais confortável.

Quase sempre reparo em como me sinto nessa relação. Levemente adocicado. Sem ter medo de parecer vulnerável. Sem precisar me afirmar sempre. Sem queda de braço desnecessária. Sem discussões inúteis.

Talvez seja o máximo de tempo que consegui me sentir seguro, comigo mesmo. Sem achar que estava " dormindo com o inimigo ". Tive experiências longas de estar com pessoas que não me enxergavam ou que estavam comigo por motivos secundários. Ser eu mesmo, me traz um alívio e uma leveza imensa.

Estar com alguém 15 anos mais jovem tem vários pontos interessantes.  Mas o engraçado é que temos o mesmo ritmo nos principais aspectos da vida. No mais, não fujo da responsabilidade que é " ser o mais experiente ".

E lá se vão 4 anos. Ano que vem, ao que tudo indica, se tornará meu relacionamento mais longo.




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Cortando contato / Sonhos com minha mãe

 


Já são 8 meses sem ela. 

Parece que cada dia às vezes passa muito devagar. Às vezes, rápido demais.
Lembrar que a pessoa que me trouxe à vida não está mais neste plano, me recorda diariamente, de que eu também estou morrendo.
Muita coisa perdeu o sentido. Aturar certas coisas, certas pessoas, certas situações...
Eu mantive, mesmo a contragosto, muitos vínculos, apenas por aparência, pra agradar minha mãe. A partir do momento em que ela parte, tudo se desfaz.

A relação com meu pai sempre foi distante. Mesmo ele estando sempre perto, emocionalmente nunca esteve. Sempre foi utilitarista. Nunca deixou faltar nada no quesito material, mas em relação a afetos, era avarento e tóxico. Nos últimos anos, me vi no dever de abrir os olhos da minha mãe pra certas atitudes dele. Creio ter conseguido. Mas queria ter mais tempo com ela, pra vê-la se libertar do narcisismo e da manipulação emocional dele.

Cortei qualquer tipo de contato com meu pai, há mais ou menos dois meses. Dei várias chances, pra ver se ele melhorava como pessoa, após ficar viúvo. Mas sempre se mostrou incapaz de ouvir, de acolher, de ter o mínimo de empatia. Espalhou várias histórias tendenciosas, se aproveitando que minha mãe não estava perto pra desmentir. 

Arquei com todos os custos do funeral da minha mãe. Ao mudar de residência, tive um aumento nos meus gastos e sem minha mãe pra me ajudar em algumas tarefas, onde tenho limitações físicas. Meu pai passou a pagar uma diarista pra casa dele. Depois, descobri que além de um salário razoável pra quem nunca fez mais que o ensino médio, ele conseguiu uma boa quantia referente a um seguro de vida e estava recebendo uma pensão do INSS pela morte da minha mãe. Tudo isso bem quietinho. É como se eu fosse filho dele. Um nível de sociopatia bem elevado. Tudo isso somado a homofobia, misoginia e avareza. Me dei conta que estar perto tinha um custo muito alto pra mim e pra minha saúde. Fiz o que ela não teve coragem de fazer.

Algumas semanas antes de ela ser internada, ela estava muito triste com uma série de atitudes escrotas dele e cogitou separar. Me coloquei a disposição, pra que ela tomasse o rumo que quisesse, sem se preocupar com a questão financeira. Ela chegou a informar que iria separar e ele fingiu que desmaiou. Não sei o que aconteceu, mas ela ficou com um pouco de pena ou achou que iria me sufocar financeiramente e acabou ficando na casa. Acredito que fiz a minha parte. Ela tomou sua decisão, sabendo que teria uma segunda opção. Uma forma de se ver livre daquela realidade. Isso, pra mim, não tem preço.

Concluindo a postagem, nestes últimos dias, tive dois sonhos com ela. Num deles, ela tinha ressuscitado. Voltado a vida, nos dias atuais. Fiquei tão feliz, que acordei com um sorriso, achando que era verdade. Agradeci a ela por ter aparecido e conversado comigo. Muita saudade.






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Primeiro dia com a nova medicação

 


Eu já estava tomando um medicamento " mais leve ", desde julho de 2021, quando tive o que pareceu um burnout, seguido de Covid 19. Essa medicação que eu tomava era pra dar motivação, de levantar, de fazer as tarefas cotidianas, etc. Bom, serviu em partes, pra que eu não caísse num limbo completo, mantivesse meu emprego e meus estudos, mesmo que precariamente.

A última psiquiatra que me consultei me alertou que eu não estava tratando uma das causas principais deste meu " eu atual ", que seria a tristeza/melancolia cotidiana. E me receitou uma outra medicação, que atuaria mais neste ponto.

Bom, a consulta foi há três meses e só fui tomar a primeira pílula hoje. Sou meio pé atrás quanto a dependências ou reações. Mas cheguei num ponto de letargia tão acentuado, que resolvi seguir a prescrição da especialista.

Em 1 ano, além do burnout e da Covid 19, tive uma propensão a hipertensão confirmada e hoje tomo medicamentos pra controlar pressão. Ganhei peso, me isolei mais, o sedentarismo aumentou. Tive várias situações de stress e desapontamento com pessoas. Meus cabelos e barba ficaram grisalhos rapidamente. Senti que envelheci uns 5 anos em 1. A perda da minha mãe, em dezembro fez com que tudo virasse uma bola de neve. Cortei relacionamento com meu pai. Perdi o controle das minhas finanças pessoais e me endividei.

Claro que nem tudo foi ruim neste período : Continuei minha terapia, com um especialista que me entende melhor. Me mudei pra uma casa mais confortável e mais perto do metrô. Retomei contato com familiares que eu não falava há anos. Consegui formar uma biblioteca, como sempre sonhei. Concluí minha pós graduação. Me matriculei em um dos cursos de ensino superior dos meus sonhos ( Sociologia ). Meu relacionamento evoluiu bastante e completamos 4 anos juntos. Fizemos a união estável em abril e já fico mais tranquilo, por proporcionar alguns direitos a ele, como plano de saúde.

Gostaria de ter disciplina de escrever todo dia. Sei que me faria bem. Mas não consigo ser esse tipo de pessoa estável. Tenho procrastinado bastante. Espero que o medicamento faça um bom efeito.




 
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