sábado, 4 de novembro de 2023 0 comentários

Um dia, há 11 anos - Parte 1


 Juro que não me lembro quantas vezes e de quantas maneiras contei esta história, seja aqui ou em outros blogs. Parece que o tempo vai criando novas interpretações, novas visões e eu não quero que isso vire uma história de pescador rs. Um dos meus maiores temores na vida, é o de perder a memória. Isso me estimula a escrever. 


Há 11 anos, no feriado das almas de 2012, algo aconteceu. 

Eu passei boa parte da minha adolescência e juventude, me achando uma pessoa estranha e que não era digna de receber afeto. Algumas garotas demonstravam interesse e eu ria. Sempre achava que era uma pegadinha. Nunca levava a sério. Com o tempo, isso foi mudando. Em relação a garotas, tive pelo menos quatro que me enxergaram e jogaram luz na minha auto estima. Acredito não ter retribuído tão bem, por imaturidade. Depois de alguns anos, aceitei minha bissexualidade e passei a priorizar garotos, sem dizer nunca pra garotas. 

Qual o sentido desse parágrafo anterior? Bom, em relação a garotas, eu sempre fui escolhido e nunca tive a chance de ter um tipo de garota no meu imaginário, tomar a iniciativa e conseguir. Às vezes achava algo pouco provável. Sinceramente nunca tive muito tato para as nuances e particularidades do feminino, principalmente sobre entender o " não dito ". Até que surgiu uma garota, em 2009.

Eu estava no meu primeiro relacionamento sério, com um garoto. Era o segundo ano de relação. Porém, as coisas não iam bem. Por sermos amigos, eu achava que a relação já começaria bem, mas as diferenças começaram a aflorar. Nisso, com 24 anos, eu criava algumas rotas de fuga pro meu imaginário, pra compensar a falta de afeto do meu atual relacionamento. Em outra época, já teria dado um fim. Mas nesse cenário, começando a escrever num blog, fui procurando outros pra seguir e ganhar seguidores também. Até que encontro um, meio dark e com poesias, chamado Evidentes Pensamentos. Fui no perfil da dona do blog. Caramba! Que garota maravilhosa. Ela transbordava energia, mas de forma tímida e retraída. E fiquei pensando como deveria ser aquela menina na vida real. 

Lembrando que era uma época antes dos smartphones. Não era tão impossível como hoje, uma garota incrível conversar com um cara comum, como eu. Atualmente, criou-se um grande abismo no diálogo. 

Comecei a deixar comentários, elogiando as postagens dela. Vi que ela tinha deixado o email no perfil. Começamos a trocar e-mails e ela passou a comentar no meu blog. Meu espaço de escrita era totalmente autoral, como um diário. E eu sempre vi as pessoas de forma binária e pensava: Se ela vê que me relaciono com um garoto, a chance que tenho de impressionar a ela se reduziria a quase zero. Seria no máximo, o esteriótipo do amigo gay, confidente e chaveirinho de garota ( dispenso ). 

O tempo foi passando, tive idas e vindas no meu relacionamento. Ela perde o pai, precocemente e isso marca muito a vida dela. Tornou-se mais fechada. O brilho foi se apagando. Me aproximei, como podia. Conversávamos bastante no MSN e passamos a trocar SMS. Ela chegou a ter um namoro breve, que não deu certo e estava trabalhando numa loja de sapatos. Até que ela se estressa com a gerente, fala poucas e boas e é demitida. 

Nesse cenário, em 2012, eu já estava praticamente jogando a toalha no meu relacionamento. Já estávamos há quase cinco anos e o que eu esperava nunca chegava. Sentia que o tempo estava passando pra mim e que eu precisava aproveitar o restinho da minha juventude. 

Eu tinha 27 anos em 2012 e ela, 21. Fiz um convite a ela, pra que viesse pro Rio, aproveitar o tempo livre até que arrumasse outro emprego. Ela topou! Meu Deus, que alegria. Há alguns meses antes, nós já tínhamos dado um passo a frente nas nossas conversas. Já rolava atração e troca de flertes e elogios. Ela sairia de Piracicaba, de ônibus, pra me encontrar. 

Eu ainda morava com meus pais. Ela deu uma desculpa pra mãe, para viajar. Pedi que uma amiga fosse o contato pra mãe, pra deixar ela mais tranquila. A mãe nunca deixaria uma garota do interior, tão nova assim, ir atrás de homem no Rio rs. E deu certo, nesse sentido.

Mal dormi do dia 01/11 pro dia 02. Fui buscá-la na rodoviária. Trocamos SMS e ela disse ter chegado. Nos desencontramos e demorei a encontrá-la. Quando a vi, de longe, ela ainda não tinha me visto, hesitei. Lembrei da minha adolescência, de não me sentir bonito o suficiente e dei uma congelada. Pensei: Essa garota vai me ver e vai dar meia volta. Fiquei paralisado por alguns instantes e resolvi ir até ela. Pulou em mim e me perguntou por que eu estava vermelho igual um tomate. Realmente, poucas vezes eu fiquei tímido como naquele dia. Era como eu estivesse vivendo uma outra vida. Saímos da rodoviária de mãos dadas. Antes disso, ela já tinha soltado que éramos namorados. Se ela tava dizendo, eu aceito rs. 


Continua...

 
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