segunda-feira, 14 de março de 2022

O universo chamado mãe - Parte 1

 


Há muito tempo não escrevo aqui. Sinto falta, às vezes.


Amanhã, dia 15, fará 4 meses que minha mãe partiu, aos 59 anos. Depois de uma certa idade, acabamos achando que estamos preparados pra este tipo de perda. Ledo engano.

Particularmente, eu nunca fui uma pessoa muito ligada à família, como um todo. Nunca me senti aceito, respeitado ou amado, como eu achei que deveria. Em troca, sempre agi com frieza e desdém. Acabei me esforçando pra me virar sozinho, desde sempre.

Minha mãe sempre cuidou de tudo. Nunca me faltou nada pra comer, nenhum brinquedo que eu quisesse na infância. Estudei em escolas privadas e públicas: nada com muita pompa, mas o suficiente pra sobreviver no futuro. 

Não tive irmãos. Sempre gostei disso, mas a conta chega nesse momento. Ter que lidar com isso sem ter com quem desabafar no mesmo patamar. O luto do meu pai é completamente diferente do meu. Não digo que ter um irmão, ajudaria neste caso. É apenas uma possibilidade. Aprendi vendo a família da minha mãe, que certos irmãos, às vezes mais atrapalham do que ajudam.

Fiquei um mês na casa do meu pai, tentando oferecer apoio e me apegando às memórias da minha mãe, que ainda estavam muito vivas. O cheiro, as coisas do jeito que ela deixou. Ainda tinha comida pronta na geladeira. As roupas que ela lavou ainda estavam limpas. Tudo estava esperando ela voltar do hospital, com vida. Mas não aconteceu.

Minha mãe foi a terceira, de oito filhos que minha avó gerou. Teve uma infância muito pobre. Me contou algumas vezes que tinha que catar do lixo alguma coisa pra comer ou vestir. Ninguém da família tinha estudo. Viviam da pesca e de outros serviços manuais. De uns tempos pra cá, eu quis compensar essa escassez que minha mãe teve no início da vida, com um pouco de conforto.

Os preconceitos vieram, muito em parte, dos meus avós maternos. Machismo, racismo, homofobia, tudo isso gerava relacionamentos tóxicos. Irmãos que se odiavam, na maioria das vezes. Filhos que não falavam com os pais. E tudo isso acabou respingando em mim. Demorei pra entender o efeito dominó. 

Minha avó materna faleceu em 2017. Coincidentemente, de lá pra cá, eu consegui me aproximar mais da minha mãe. Tive uma avó que envenenava minha mãe com os piores preconceitos possíveis, advindos da ignorância, da religião e do patriarcado. Foi um dos motivos de eu ter deixado de morar com meus pais : não ter mais que conviver com as visitas dela. Ainda assim, era uma base emocional pra minha mãe. Ela ficou muito enfraquecida com a partida da mãe e eu tentava estar perto, mas não conseguia ter muita empatia, pois fui muito prejudicado pela visão de mundo retrógrada da falecida.

O ano de 2017 marcou alguns pontos também. Era meu primeiro ano morando sozinho, de verdade. Me mudei pra morar com Guilherme e essa união, morando debaixo do mesmo teto, ruiu no primeiro ano ( 2016 ), após três anos de relacionamento. Lá estava eu tendo que me virar. Minha mãe, com a visão machista, sempre fez questão de deixar claro o que é " tarefa de mulher " e " tarefa de homem ". Desde pequeno, nunca precisei lavar louça, roupa, banheiro, etc. Inclusive acostumou meu pai assim. Com o tempo, eu vi que era algo particular dela e que eu precisaria me virar sozinho um dia. Aprender a fazer as coisas, me traria mais independência e eu não seria mais obrigado a ouvir ou aturar certas coisas. Foi aí que ela meio que sentiu no ar que o Guilherme não estava mais comigo. Se ofereceu pra voltar a lavar e passar minhas roupas. Aceitei.

Eu poderia ter dito não, mas ainda queria uma certa dependência em relação a minha mãe. Ela sempre foi adepta a jogos de poderes ( e herdei isso dela ) e essa troca de favores poderia nos aproximar. Sim, eu iria querer compensar o esforço e gasto dela comigo. E foi o que fiz.


Continuo no próximo post...






1 comentários:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Retribuindo a visita por lá. Adorando estar por aqui e desfrutar de suas magníficas partilhas de seus sentimentos e emoções ... Adorável mesmo.

Beijão

 
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