sábado, 13 de setembro de 2025 0 comentários

5AM




Estava ouvindo música e trabalhando. Até que o algoritmo me recomenda essa música. E coincidentemente eu estava pensando naquela pessoa, que supostamente está na Alemanha.

Meu Deus, que música boa. Tem muitas idéias que surgiram, por aqui, a partir dela.

Resolvi mandar mensagem, depois de muito tempo. Ao que tudo indica, não há mais o que conversar, principalmente, por parte dele. Após eu ficar sabendo, por ele, do que é supostamente a verdade... meio que entramos numa encruzilhada.
E vou escrever, como num fluxo de pensamento, algumas coisas que ficaram surgindo na minha mente :

Ele estava certo sobre eu não ter amado ele, em 2017, mas sim ter amado um personagem ou algo que eu queria muito que fosse verdade. Sim, era um ideal. Um ideal de talvez alguém que pudesse chegar onde não cheguei, que pudesse transitar por onde não transitei e ser melhor que um dia já fui. Sim, ele já desde cedo não tinha nenhum problema quanto a ser LGBT e tampouco pressão familiar quanto a isso. Eu, com 18, era apenas uma incógnita ambulante.

E mesmo não tendo ido muito pra frente a nossa rápida relação, o ideal continuava vivo. Eu queria estar certo. Ele iria longe e eu queria ver, mesmo que de longe. Queria me orgulhar da minha intuição. Estava torcendo por ele, mesmo sem estar a meu lado.

Até que anos depois ele reaparece. E depois de conversas profundas, jogos mentais e até mentiras de ambas os lados, vem a tona o fato de que ele não estava casado de uma forma " tradicional ". Era um relacionamento sugar, no qual o afeto não é o principal prato na mesa, mas o fator financeiro.
Realmente, o afeto é uma grande questão pra mim. Acredito profundamente, que ele nos transforma e nos faz crescer.

Chegamos num momento crítico da nossa relação, já fragilizada, que estava respirando com ajuda de aparelhos, à distância. Sendo que nesta aparição dele, eu nunca tive o verdadeiro motivo pelo qual ele me procurou, 6 anos depois, estando em outro país. Essa dúvida sempre pairou sobre mim. Mas faz diferença? Já passou pela minha cabeça, ainda mais agora sabendo que é um relacionamento de aparências, que ele estava tentando lembrar como era ter alguém que não o via apenas como um corpo atraente. Ou conversar com alguém, que em algum momento acreditava no melhor pra ele, na sua trajetória. 
Bom, eu nunca tive essas certezas e mesmo que ele me dissesse o que eu queria ouvir, quem me garantiria o que é verdade? E essa talvez tenha sido a melhor lição, que tirei pra minha vida, nesta relação traumática : A verdade não é e nem se aproxima de ser algo concreto e imutável. O que é a verdade hoje, muitas vezes e em determinadas situações pode não ser amanhã. E passei a desconfiar quando alguém passa a me dizer algo, que considero a verdade, mas que |às vezes é somente algo que quero ouvir. E isso vira objeto pra manipulação e intriga. Quando ouço uma verdade, atualmente, analiso outras possibilidades e variantes, tentando me afastar da situação.

Sim, dei voltas e voltas neste assunto e não há resposta alguma sobre o motivo de eu tê-lo procurado. Ele, quando descobriu o artifício que utilizei pra voltar a ter contato, após seu segundo bloqueio, sem aparentes motivos, se afastou de vez. Mas a porta aberta que antes parecia ser questão de tempo pra ser descoberta, parece que nunca mais se abriu. Cheguei a pedir a amigos pra entrarem em contato com ele, ver como estava. Cogitei a possibilidade de ele estar precisando de ajuda pra voltar ao Brasil e talvez estivesse com vergonha de pedir. Não sei ao certo. São apenas suposições.

Nisso, eu consegui mandar mensagens de um novo número e vi que chegaram pra ele. Não pedi desculpas, pois acho incoerente se desculpar por algo que faríamos novamente. Ele sabe ser cruel quando está com raiva e o que era pra ser algo em comum, nos afasta ainda mais. Dá a entender que ele não lida com seu lado negro como parte de si e não aceita, o que pra mim, já é algo natural. Mas talvez o principal motivo pra esse afastamento definitivo não seja o fato de ele estar num relacionamento sugar e isso ser contra meus valores: Ao que parece, pode ser uma vergonha que vem dele e o próprio se martiriza por ter seguido esse caminho e hoje não vê como sair dessa situação, visto que família e amigos se afastaram ( segundo relatos dele ).
E é neste ponto que me vejo sem ter a possibilidade de desistir ou me fechar pra um eventual contato, que talvez seja um pedido de ajuda ou simplesmente uma fuga da solidão, que assola a muitas pessoas. O que eu fiz foi deixar claro que se ele precisar conversar e não me procura por medo de algum julgamento moral, que não o farei. Sinceramente, seria como conversar com uma nova pessoa. Tudo o que eu imaginava ser a pessoa que conheci, talvez nunca tenha existido e hoje, passou por mais mudanças ainda, muito drásticas.

No final do mês, é o aniversário dele de 26 anos. Sempre que posso, vejo se ele está bem, pelo seu histórico de músicas na Last.Fm. Mas não posso fazer nada, a não ser torcer pra que ele esteja perto de pessoas que querem seu bem, até mais do que eu quero o bem dele. Mas não sou exemplo pra nada.





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Narrativas e o ipê rosa

 


Nos últimos anos, pré e pós governo fascistóide, pude refletir sobre a importância da narrativa nas nossas histórias. Certas coisas, às vezes parecem ser ditas, como que num piloto automático, quando na verdade, fazem parte de um projeto político, que molda nosso imaginário.

Resolvi levar dois exemplos de narrativas, pra terapia.

A primeira delas, minha amiga AC, que tentei me relacionar amorosamente, por volta de 2002. Eu não fazia idéia da possibilidade de ser bissexual. Não havia repertório, tampouco representatividade. Minhas descobertas acabavam sendo no " tentativa e erro ". Eu gostava da minha amiga e achava que a atração não era importante. Ledo engano. Tanto que uns dois anos depois, rolou de ficarmos e só ficou comprovado de que a atração era necessária e não existia ali. Mas isso não me dava o " diagnóstico " de não gostar de garotas, só porque eu não consegui ir além de beijos com minha amiga. Era apenas uma incompatibilidade. E nesses anos ( entre 2002 e 2007 ), essa minha amiga lidou comigo como alguém que a desejava mas que ela optava em não se relacionar. Que era a escolha dela não dar um passo a frente. 

Em 2005, Angelina aparece na minha vida. Depois de muitos desencontros, começamos a namorar em 2007. Foi quando tive minha primeira vez. Porém, ela fugiu da relação, com medo de eu ser imaturo. Eu  tinha praticamente 20 anose tive que ouvir que " eu não sabia o que queria da vida ". Mas eu trabalhava e tava num curso técnico. Nunca entendi o que ela quis dizer.

E

quinta-feira, 17 de julho de 2025 0 comentários

Fênix

 


" Eu!

Prisioneiro meu

Descobri no brêu

Uma constelação


Céus!

Conheci os céus

Pelos olhos seus

Véu de contemplação "

( Jorge Vercillo : Fênix )


02/11/2012, dia de finados:  Ela chegou. 

Após anos inflando meu orgulho, com conquistas e sensações de vitória, ela chegou.

Quem só vence, sem experimentar uma verdadeira perda, nunca saberá a verdadeira sensação de uma vitória. Mas pra vencer e pra perder, é necessário se arriscar, estar vulnerável. Estar exposto ao cansaço. E fui me cansando, não vendo mais sentido em me manter com aquela mentalidade.

E ela chegou.

" Vou!

Entre a redenção

E o esplendor

De por você viver


Sim!

Quis sair de mim

Esquecer quem sou

E respirar por ti

E assim transpor as leis

Mesquinhas dos mortais


Agoniza virgem fênix

O amor!

Entre cinzas arco-íris

Esplendor!

Por viver às juras

De satisfazer o ego mortal "


O ego, o protagonismo, a dificuldade em abdicar de mim mesmo, por outra pessoa, de cuidar.  A quase impossibilidade de ver numa outra pessoa algo que eu não tenha ou algum tipo de superioridade. Tudo isso foi forjado pelo fogo dela e virou cinzas. Deixou de existir. Poderia existir uma visão de mundo, da minha parte, que não girasse em torno da minha pessoa. Abrir mão do controle! Era sobre isso.

Experiência extra sensorial, ao olhar, fixamente, nos seus olhos. Sim, eu vi e fui transformado. Havia algo ali. Como eu poderia descrever? As palavras nem sempre são eficientes nessas horas. Mas ela sabia que eu tinha visto. Será que alguém mais viu?

E foi ali que me despedi, de quem eu era. Deitei, me tranquei no quarto, durante dois dias. Sem luz do sol, sem falar, sem me alimentar. Apenas me deixando morrer, deixando ir uma alma que não fazia mais sentido. Tudo ficou pra trás. Parece que a partir dali, me vi outra pessoa e até os mais próximos, passaram a me tratar diferente. Antigas pendências se foram. Essa pessoa não existe mais. Não diz respeito a mim. Pesos do passado? Comecei do zero.

Meu companheiro de quase 5 anos, na época, notou, que eu tinha partido. Apareci na casa dele, pra contar o acontecido. Não brigamos mais. O ego inflamado era o responsável por todo o stress, e da minha parte, ele foi sublimado. 

Semanas depois, fiz uma viagem pra MG, sozinho e meu companheiro mandou uma mensagem, pra meu amigo, que me hospedou em sua casa :

- Cuide bem dele. É desse jeito, mas é apenas uma criança...

É o tipo de coisa que eu nunca ouvi ele falando. É o tipo de doçura que nossas quedas de braço não permitiram trazer pra nossa rotina. É o tipo de coisa que a gente ouve... depois de morrer. 

Sim, é como se ele falasse de alguém que já partiu.

E essa criança, na qual ele se referiu, sempre temeu dividir espaço com outras crianças. Sejam no sentido figurado ou literal. E daí nasceu um novo medo: de que Ela fosse mãe, um dia e eu nunca mais tivesse alguma chance. Pois ela, além de focar na maternidade, morreria pra se tornar um outro personagem, o de " mãe ".

Quase treze anos depois, esse momento chegou. Ela se tornou mãe e não é mais aquela pessoa. Assim como eu transmutei em 2012, por métodos diferentes.Talvez se eu olhasse ela nos olhos, hoje, veria outro universo. Me despedi a tempo, antes disso acontecer. Cheguei ao ponto de me imaginar sendo pai, antes de acontecer o que aconteceu. Sentia que era o momento dela, que talvez precisasse disso.

E nos tornamos estranhos, um para o outro. Nos últimos doze anos, ela sempre esperou que eu voltasse a ser aquele antes do dia de Finados e nunca consegui ser. Não tenho mais tempo, nem esperança de que ela seja novamente aquela garota.

Ficar feliz por ela, foi um exercicio e tanto, até mesmo doloroso. Foi aceitar o paradoxo entre nascimento e morte. Ela se foi e duas novas vidas chegaram. Que sejam muito felizes.


" Coisa pequenina

Centelha divina

Renasceu das cinzas

Onde foi ruína

Pássaro ferido

Hoje é paraíso


Luz da minha vida

Pedra de alquimia

Tudo o que eu queria

Renascer das cinzas "





quarta-feira, 9 de abril de 2025 0 comentários

Os 40 anos

 


No último dia 26/3, completei 40 anos. No aplicativo que simula uma troca de cartas, chamado Slowly, um garoto de 20 anos me perguntou :
- Como é ter 40 anos ?
Pensei em mil respostas. Mas a principal, prevaleceu : É não se levar tão a sério.
Isso porque muitas coisas que antes pareciam grandes problemas, hoje não passam de " dust in the wind ". Orgulhos desnecessários, achar que tudo se resume a vitória ou derrota... não é bem assim. Muitas derrotas, que pareciam ser acachapantes, não doeram tanto, enquanto muitas vitórias que prometeram uma grande satisfação, se mostraram vazias e com pouco sentido.

Ah, o que fiz no meu aniversário? Nada demais. Jantei num restaurante, com meu companheiro, meu pai e minha madrinha. Caiu numa quarta feira e foi difícil pra muitos amigos estarem comigo. Paciência. E não é nada demais. Acho hiper cafona grandes eventos pra comemorar estes múltiplos de 10, como se a pessoa fosse mega relevante, sabe? Acho simplesmente cafona e um gasto desnecessário de tempo, dinheiro e carisma ( os dois últimos, bem escassos por aqui rs ).

Minha rotina nos últimos anos tem sido confortável, a meu ver. Não tenho muito o que reclamar. Meu companheiro assumiu muitas tarefas domésticas que antes minha mãe me ajudava. A rotina se encaixou, de uma forma funcional. Ele tem estudado por EAD e posso me dar ao luxo de não precisar que ele trabalhe, por enquanto. Pro nosso nível de consumo, meu salário tem sido suficiente. Falta apenas uma melhor disciplina financeira, algo que nunca tive. 

Este aniversário é o 4° sem minha mãe, no plano material. É uma forma de ter noção do tempo, de como é efêmero e fugidio. Passou muito rápido. Desde dezembro, cessei o uso de antidepressivos, decorrentes do luto. Tenho tentado me virar sem eles e é uma redescoberta.

Voltei a falar com meu pai, depois de 2 anos e meio de hiato. Acho que foi bom pra ele se organizar mentalmente e das coisas que fazia errado. Temos um contato melhor, hoje em dia, com limites bem claros, pra ambos os lados. Nada de invasão de privacidade.

Esse ano também marcará meus 7 anos de relacionamento com meu atual companheiro, o que é algo a se comemorar muito, em tempos de relacionamentos extremamente frágeis e contaminados pelas falsas promessas das redes sociais e do capitalismo tardio.

Tenho procrastinado quanto aos estudos. Este ano tenho um TCC da pós em Ciências Humanas e já preciso entregar em julho. Ainda nem pensei no tema. Outra questão é o estágio em Ciências Sociais, que pedem pra elaborar e dar aulas de dois temas, como se fossem cursos online. Preciso entregar em 2025 também e não escolhi os temas. Tem também uns cursinhos da Alura e da Casa do Saber. Assino ambos e mal consigo acompanhar tanto conteúdo.

Estou terminando uma leitura, pegando um sol da manhã, em minha varanda, do maior pensador vivo, na minha opinião, professor Gilles Lipovetsky ( FRA ). Tive o privilégio de ter aulas com ele na minha pós na PUC RS e consegui trocar mensagens com ele no LinkedIn. Ele é crítico desse capitalismo, que esvazia nossa existência e soterra nossos valores. Acho super complementar ao pensamento de Bauman e também de Baudrillard. A capa do livro é muito simbólica pro meu momento: um balão, se desapegando de saquinhos de pesos desnecessários, pra seguir levantando vôo. Deixo minha recomendação.






terça-feira, 1 de abril de 2025 0 comentários

Deixando ir

 


A vida vai dando sinais de que sempre seguirá indo em frente. Na última semana, completei 40 anos e estes números são bom divisores de águas: Oportunidade de refletir sobre o que ainda faz sentido e o que não faz mais.

Uma série que marcou minha juventude e que ainda revejo, junto a meu companheiro, de vez em quando, é The Vampire Diaries. Muitos me perguntam, por que eu, que gosto de tramas mais rebuscadas, me encanto por algo aparentemente fútil e raso. A série é bem adolescente, mas fala muito sobre morte, luto, perdas no geral... mas principalmente sobre amizade, relacionamentos e o valor da palavra dita. Essa foto é de um episódio ( 4x02 ), em que os personagens resolvem parar, pra se despedir das pessoas que já se foram. Sim, é uma sequência de eventos tão traumáticos e acachapantes, que eles não tiveram tempo pra assimilar o luto. Um fato marcante e relevante, foi que ao pesquisar por essa foto, descobri que a autora da obra, que virou série, faleceu neste março de 2025. Muito simbólico.

Pensei em me despedir, nesta postagem, de várias pessoas, que se foram. Estando vivas, ou não. A principal delas, obviamente, é minha mãe. Ela partiu em dezembro de 2021 e desde então, tenho lidado com esse vazio, dia após dia. Acho que não tenho como deixá-la ir. Faz parte de mim. Nos últimos meses, realizei parte dos últimos cuidados com o corpo dela: Optei pela cremação dos restos mortais e devolveremos ela ao mar, à natureza marítima dela, de uma família de pescadores. As cinzas dela estão guardadas aqui, até marcarmos um dia pro ritual, em que ela voltará a natureza. Um agradecimento por toda a vida e o cuidado que ela sempre teve com todos. Meu companheiro acompanhou toda a exumação e fiquei apenas observando de longe. Não havia psicológico pra ver de perto, os ossos e tudo mais. Fiz o que pude, pra não deixar que descartassem o corpo dela, como lixo. O corpo dela gerou a minha vida e precisava ter esse zelo. Pra mim, é o mínimo.

Nos últimos anos, também me despedi de amizades, que eu achava que seriam pra sempre, por já terem mais de uma década. Porém, os desentendimentos da vida online, as mudanças de perspectivas e os traumas de cada um, geram muitos desencontros. Me afastei e deixei ir. Sempre acho que se em alguma situação, o problema da pessoa sou eu e a vida dela melhorará estando longe de mim, ficarei feliz em solucionar essa questão, indo embora. E não volto mais.

Isso vale também pra antigos amores e afetos. Mantive contato com muitos, como forma de manter minha memória viva e vê-los avançando na vida. Porém, vivemos em uma sociedade extremamente utilitarista. Muitos vêem o  "manter contato " como algo que precisa ter algum objetivo. Não vale mais nada apenas ter carinho e se preocupar com a pessoa. Não. Isso sem contar com a enorme dificuldade das pessoas em lidar com seu próprio passado, suas escolhas e suas não escolhas, que fizeram este presente. Deixei ir. 

E acreditem ou não, também há perdas, pra mim, que são simbólicas, por serem artistas ou personagens, que fazem parte da construção da minha identidade. Alguns se foram, e a ficha não caiu. Talvez por eu gostar tanto, ou porque a obra se torna quase que imortalizada, seja por forma de música, filmes, livros, seja pelo impacto que eles tem na minha memória. Deixarei alguns exemplos e me despeço por hoje.





George Michael

Michael Jackson

Dolores O'Riordan ( The Cranberries )

Maurice e Robin Gibb ( Bee Gees ) 


Johann Johanson ( Trilha sonora filme Teoria de tudo )

Marie Fredriksson, vocalista do Roxette



Whitney Houston

David Bowie


Zygmunt Bauman

Robin Williams

segunda-feira, 18 de novembro de 2024 0 comentários

Patrulha do relacionamento aberto


Nunca me esqueço de um vídeo da Maria Homem, em que ela fala do mito de que universidade pública é uma zona, no sentido de festas, drogas e sexo. Ela joga no ar uma reflexão que pode doer em muitas pessoas:

- Será que o outro está gozando mais que eu ?

Mas por que começar com esta reflexão dela? Bom, tenho conversado com muitas pessoas, nos apps do Brasil afora, e também com amigos e leitores do blog. Em várias ocasiões, surge o assunto das novas " regras " dos relacionamentos, das aberturas, fechamentos e whiskas sachê... Acontece que o tema relacionamento aberto era muito mais tabu que hoje em dia. No entanto, muito se fala, atualmente, no tema, o que faz surgirem pessoas que se consideram experts ou mesmo que aproveitam a onda pra surfar num falso moralismo.

E tentam te colocar um rótulo, de qualquer jeito:

- Se você vê pornô e transa pouco, tá errado;

- Se você se considera monogâmico e flerta, tá errado ;

- Se você está em apps, como o Grindr, mesmo com o parceiro sabendo, está errado;

- Se você lembra de um ex, com algum desejo, tá errado, pois significa que não deseja o atual;

Bom, eu poderia ficar dias listando os absurdos que ouço e do que as pessoas esperam de comportamentos alheios...

E quando se trata de uma pessoa com quase 40, gorda, PCD e que ainda consegue ficar com mais novos, soa como uma afronta a algumas pessoas. Já cheguei a ouvir algo como:

- Você deveria ser grato por estar num lugar de privilégio ( em ter alguém ) ! Como ousa não estar satisfeito com o que já tem e muitos querem?

Ora, ora, ora. Nisso eu viro pro meu namorado e conto. E pergunto, dando risada, se sou grato. Ele ri e confirma que sim. E é divertido ver pessoas se incomodando tanto ou querendo editar regras nos relacionamentos alheios.

Isso quando não vem aquela bee que quer competir. 

- Me mostra seu namorado. Quero ver se é mais bonito que eu !

Bicha, melhore. Você será apenas a marmita. E tá tudo bem. Ser marmita é vantagem pra muita gente e conheço alguns que até preferem. Nem tudo é sobre protagonismo. Ás vezes deixar este palco, atiça até mais um pouco o flerte.

Voltando aos fiscais de relacionamento aberto, que às vezes querem converter o monogâmico, como se fossem testemunhas de jeov@, estes cidadãos vão ficando cada vez mais ressentidos, ao notar que resisto a entrar nestes rótulos.

- Mas se você tá no app, seu relacionamento é aberto, né?

e respondo:

- Depende. Se for pra alguém que interesse aos dois e se interesse por nós, talvez seja. E talvez deixe de ser a qualquer momento. Não é uma licença, tipo PMO...

E a patrulha do relacionamento aberto já estava com nossas fotos e nomes impressos, pra confeccionar um crachá. Tudo aparentemente gratuito. Não se dêem o trabalho, amigas. Aqui tá tudo bem. E tá tudo bem pra quem nos acha retrógrados, incoerentes e disruptivos. Neste caso, em específico, não vamos nos rotular.

Uma pergunta que gosto de fazer antes de qualquer possibilidade de discussão ou atrito:

- Sou obrigado?

Caso não seja... prefiro não... como faria o célebre Bartleby, de Melville.


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Rainha do shade

 


Amo a Mariah Carey, desde que me entendo por gente e ouço música. Com o tempo, surgiu o rótulo de rainha do shade. Uma forma de denominar a estratégia de ironia/humor/deboche que ela parece usar sempre em suas aparições públicas.

Bom, num blog de astrologia, descobri que o mapa dela se parece muito com o meu. Logo, vi semelhanças também, na estratégia, quase que automática do " shade ". Parece muito com um ataque leve, que também tem um pouco de defesa e usando um pouco do humor, pra não causar grandes estragos. É uma espécie de válvula de escape e tipo " segue o jogo ".

Obviamente, muitas pessoas não lidam bem com esta estratégia. E o balde vai enchendo, até transbordar. Por isso, venho tentado usar o shade com moderação e da forma mais consciente possível. Sim, acredito que abandonar, de vez, seria bem dificil rs.

Como vocês lidam com o shade? Usam? Recebem?





 
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